CONHEÇA A CRISTO E A BÍBLIA
INTRODUÇÃO.
A fé cristã, desde os primeiríssimos crentes, entendeu que Jesus Cristo, a partir da sua encarnação aqui na terra, passou a ser Deus-homem. Ou seja, ele, que já era Deus desde sempre, portanto tinha a natureza divina, ao vir à Terra assumiu a natureza humana. A fé cristã chama isso de União Hipostática. Mas de onde os cristãos tiraram essa crença, e o que ela exatamente significa?
DEFINIÇÃO DE UNIÃO HIPOSTÁTICA.
A doutrina da União Hipostática, baseada inteiramente na Bíblia, foi definida oficialmente no Concílio de Calcedônia (451 d.C.). De acordo com essa doutrina, a partir de sua encarnação, as duas naturezas de Cristo (divina e humana) estão unidas em uma única pessoa, sem separação e sem confusão. Sem separação porque as naturezas divina e humana pertencem à mesma pessoa de Jesus; sem confusão porque cada natureza tem seus atributos. Por exemplo, os atributos de nascer, mamar, comer, beber, fazer pipi, dormir, sonhar, morrer e ser ressuscitado pertencem à natureza humana de Jesus, não à divina. Já os atributos de saber o que havia no coração das pessoas e fazer milagres pertencia à natureza divina de Jesus. Assim, uma de nossas confissões de fé se expressou sobre a União Hipostática:
“A divindade e a humanidade […] foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem mudança (para sempre Jesus será Deus-homem), composição (mistura) ou confusão. As duas naturezas são unidas, mas sem a perda da identidade de cada uma delas”. – Confissão de Westminster.
Portanto agora precisamos ver quais textos bíblicos levaram a Igreja edificada por Jesus Cristo sustentar essa fé outrora entregue aos santos. – Judas 1:3.
POR QUE FOI NECESSÁRIA A UNIÃO HIPOSTÁTICA?
Quando Deus criou o homem sem pecado, a distância de poder e glória entre o Criador e a criatura já era enorme, infinita. Mas após a queda do homem no pecado (Gênesis 3:1-5), essa distância tornou-se “mais infinita ainda”, por assim dizer. Como resolver essa situação, para que o homem pudesse se aproximar de Deus? Bem, o homem não poderia ir até o céu por seus próprios esforços. É o que o relato da Torre de Babel quer nos ensinar. (Gênesis 11-9) Então, Deus decidiu vir até nós, na pessoa de Jesus Cristo, uma das Pessoas da Trindade. Só que se Deus viesse até nós em toda a sua glória, o homem não suportaria a glória de Deus e seria fulminado por ela. Portanto, Deus, em Jesus Cristo, para vir até nós e morrer para nos salvar, sem deixar de ser Deus, humilhou-se a si mesmo por assumir mais uma natureza, a humana. A isto chamamos de o mistério da encarnação: Jesus, uma só pessoa, mas com duas naturezas.
BASES BÍBLICAS DA UNIÃO HIPOSTÁTICA NO AT.
No Antigo Testamento podemos encontrar textos que tratam claramente da União Hipostática na pessoa de Jesus Cristo. Por exemplo:
“A virgem ficará grávida e dará à luz um filho (homem), e ele se chamará Emanuel (Deus conosco)”. – Isaías 7:14.
Aqui vemos claramente que a promessa cumprida com a virgem Maria profetizava que ela daria à luz a um filho que seria chamado Emanuel, cujo nome significava “Deus conosco”. Então, esse filho, no caso Jesus, nasceria, portanto, seria homem, mas ao mesmo tempo seria Deus. Vejamos, a seguir, mais um texto no AT:
“Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido (homem). […] E seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus forte (Deus).” – Isaías 9:6.
Novamente, Isaías profetiza que um menino, um homem, nasceria, e ele teria um nome: Deus forte. Nome, em hebraico, tem a ver com o caráter da pessoa. Portanto, Jesus é claramente o Deus-homem em Isaías 9:6.
BASES BÍBLICAS DA UNIÃO HIPOSTÁTICA NO NT.
Se no Antigo Testamento temos poucos versículos para falar da União Hipostática na pessoa de Jesus, há vários no Novo Testamento. Vejamos:
João 1:14. – “O Verbo (Deus) se fez carne (homem).
João 1:1 diz que “o Verbo era Deus”.
Evidentemente, este texto está se referindo a Jesus, o Verbo, ou a Palavra. Em João 1:1, somos informados que o Verbo era Deus no princípio. E em 1:14, esse Verbo se fez carne. Quando Jesus se fez carne? Quando foi concebido por Espírito Santo no ventre de sua mãe, a virgem Maria. (Mateus 1:20; Lucas 1:34, 35) Será que o Verbo, ao se fazer carne, deixou de ser Verbo? A resposta é não. Veja o texto a seguir:
“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam (homem) a respeito do Verbo (Deus) da vida.” – 1 João 1:1.
No texto acima vemos que João foi um dos que apalpou o Verbo, portanto, este Verbo, que era Deus, por ter se feito carne, foi tocado. Sim, Jesus, a partir de sua encarnação, é o Deus-homem que foi tocado.
Outro texto que aponta para as duas naturezas de Jesus Cristo – a divina e a humana é:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, existindo em forma de Deus (Deus), não considerou o fato de ser igual a Deus (Deus) algo a que devesse se apegar, mas, pelo contrário, esvaziou a si mesmo, assumindo a forma de servo e fazendo-se semelhante aos homens (homem). Assim, na forma de homem (homem), humilhou a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz.” – Filipenses 2:5-8.
Novamente, observamos que Jesus não deixa de ser Deus quando se faz homem. O texto reza que Jesus, existindo na forma de Deus, ou seja, uma ação contínua, sem interrupção, sem deixar de ser Deus, assumiu a forma humana. Portanto, Jesus é o Deus-homem.
Vamos analisar a seguir um outro texto bíblico, com palavras do próprio Jesus, que indicam sua natureza teantrópica (Deus-homem).
João 8:58 – “Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo, antes de Abraão existir, EU SOU.”
Quem estava dizendo essas palavras era um homem, Jesus, o qual se identifica com o EU SOU, nome este que Deus se identificou a Moisés: “Deus disse a Moisés: ‘EU SOU O QUE SOU. Assim responderás aos israelitas: ‘EU SOU me enviou a vós’.” (Êxodo 3:14) Jesus tão claramente se identificou como o Deus de Israel que o resultado foi seus opositores procurarem apedrejá-lo por blasfêmia. (João 8:59) Portanto, Jesus Cristo homem se dizia Deus.
De igual modo, no Apocalipse de João, encontraremos nos dizeres de Jesus sobre sua natureza divino humana:
“Não temas, eu sou o primeiro e o último. Eu sou o que vive; fui morto, mas agora estou aqui, vivo para todo o sempre e tenho as chaves da morte e do inferno.” – Apocalipse 1:17, 18.
Nesses versículos, Jesus afirma ser “o primeiro e o último”, e esta expressão o próprio Deus Yahweh aplicou a si mesmo no AT: “Eu sou o primeiro, e sou o último, e além de mim não há Deus”. (Isaías 44:6) Logo, Jesus afirma ser Deus. Mas ele também afirma ser homem, quando diz no texto acima: “Fui morto, mas agora estou aqui”. Pois o atributo de morrer pertence à natureza humana, e o atributo de ser o primeiro e o último pertence à natureza divina. Logo, Jesus é Deus-homem.
Um dos melhores textos para provar a dupla natureza de Jesus a partir de sua concepção em Maria se encontra no livro de Hebreus. Observe:
“Ele é o resplendor da sua glória (Deus) e a representação exata do seu Ser (Deus), sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder (Deus) e tendo feito a purificação dos pecados (homem), assentou-se à direita da Majestade nas alturas. […] Mas sobre o Filho diz: O teu trono, ó Deus (Deus), subsiste pelos séculos dos séculos, e o cetro do teu reino é cetro de equidade. Amaste a justiça e odiaste o pecado; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu (homem) com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros; e também diz: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obras de tuas mãos (homem).” – Hebreus 1:3, 8-10.
Percebemos aqui Jesus ser identificado como Deus, por ser “o resplendor de sua glória”, ou seja, não um mero reflexo, mas a própria glória divina em ação, como os raios resplandecentes ainda são o próprio sol em ação. Então, Jesus é Deus em ação, em direção a nós. Depois lemos que Jesus é a “representação exata do Ser de Deus”. Só um Ser tão divino quanto o Pai pode ser a representação exata do Ser dele. E ainda lemos que Jesus ‘sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder’. Isso implica que Jesus é o Deus Todo-poderoso que sustenta tudo. E nos versículos oito e dez, o próprio Deus, o Pai, chama Jesus de “Deus” e de “Senhor” que fundou a terra e fez os céus com as mãos, expressão esta atribuída no AT a Yahweh. – Salmo 102:19, 25.
Ainda, mais um texto maravilhoso para provar Jesus como divino-humano.
“Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” – Colossenses 2:9.
O que o texto está dizendo sobre Jesus é que em sua humanidade habita sua divindade, e PLENA, por sinal. Portanto, Jesus é Deus-homem, mas não um deus menor como algumas seitas querem sugerir. Jesus é, então, plenamente Deus, plenamente homem.
Por fim, um último texto sobre a União Hipostática.
“Deles são os patriarcas, e deles descende o Cristo segundo a carne (homem), o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente (Deus). Amém.” – Romanos 9:5.
Embora alguns tentem traduzir esse texto de forma diferente, quase todas as versões bíblicas o traduzem assim. E ele aponta para Jesus vindo na carne (homem) e sendo Deus bendito eternamente (Deus).
CONCLUSÃO
Assim, conforme observamos neste folheto, o cristão verdadeiro deve crer pela fé, com base sólida nas Escrituras Sagradas, que Jesus é perfeitamente Deus-homem a partir de sua encarnação. Está é a nossa fé! – Pr. Fernando Galli.