Não, Jó 1:21 não prova a doutrina da reencarnação. O versículo diz:

“Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor.” (Jó 1:21)

Algumas pessoas tentam usar a frase “nu tornarei para lá” para argumentar que Jó estava falando sobre retornar ao ventre da mãe — e, por consequência, sugerindo reencarnação. No entanto, essa interpretação não se sustenta no contexto literário nem teológico do texto.

Por que não indica reencarnação?

  1. Linguagem poética e figurativa: O livro de Jó é poético. A expressão “nu tornarei para lá” é uma maneira de dizer que o ser humano volta à mesma condição de quando nasceu — sem nada, vulnerável, e eventualmente ao pó da terra, como também afirma Eclesiastes 12:7.
  2. “Para lá” = terra, sepultura, morte: Em vez de sugerir retorno literal ao ventre, a frase alude ao retorno à terra (Gênesis 3:19: “…ao pó tornarás”), e não a um novo nascimento físico.
  3. Na linguagem e poesia hebraica, lemos no Salmo 139:13, 15 que voltar “para lá” em Jó 1:21 tem a ver com a mãe terra. Veja: “Pois tu formaste meu interior, tu me teceste no ventre de minha mãe. […] Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.” Assim, o seio materno é fecundo como as profundezas da terra. Por isso, do pó viemos, ao pó voltamos.
  4. Ausência de doutrina da reencarnação no pensamento hebraico: A reencarnação é estranha ao contexto judaico do Antigo Testamento. A visão predominante é de uma única vida seguida por juízo. Hebreus 9:27 no Novo Testamento também reforça isso, onde diz que “está ordenado ao homem morrer uma única vez e depois disso vem o juízo”.

Jó não cria na reencarnação.

Os seguintes textos bíblicos provam que Jó desconhecia essa conversa de reencarnação:

“O homem morre e fica prostrado; expira o homem, e onde está? Como as águas se evaporam do mar, e o rio se esgota e seca, assim o homem se deita e não se levanta; enquanto existirem os céus, não acordará, nem será despertado do seu sono.” – Jó 14:10-12.

Esse trecho mostra claramente que Jó via a morte como um estado definitivo, não como uma transição para outro corpo ou nova vida terrena.

 “Tal como a nuvem se desfaz e desaparece, assim aquele que desce à sepultura jamais tornará a subir. Nunca mais tornará à sua casa, nem o seu lugar o conhecerá mais.” – Jó 7:9, 10.

Aqui, a ideia de reencarnação é diretamente contrariada. O morto não retorna, nem mesmo de forma disfarçada ou em outro corpo.

“Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus.” – Jó 19:25-27.

Essa é uma das passagens mais profundas. Jó não espera renascer em outro corpo, mas sim ser ressuscitado (não reencarnado), e ver a Deus em sua própria carne, apontando para a esperança escatológica da ressurreição — não para múltiplas vidas.

Conclusão

Jó 1:21 é uma afirmação de humildade diante da soberania de Deus, não uma declaração doutrinária sobre reencarnação. Interpretá-lo como apoio à reencarnação exige forçar o texto além de seu significado natural e contexto original. Os cristãos creem, então, na ressurreição dos mortos, quando os corpos mortais serão trazidos de volta a vida e seus respectivos espíritos serão unidos aos seus corpos. (João 5:28, 29; 11:25; Atos 24:15; Romanos 8:11) Os salvos ressuscitados terão a vida eterna, os perdidos ressuscitados o sofrimento eterno. – Daniel 12:2; Mateus 10:28; Apocalipse 20:14, 15. – Pr. Fernando Galli.