
I. A ETERNIDADE EM DEUS E NAS CRIATURAS INTELIGENTES
A Bíblia ensina claramente que Deus é eterno e que nós seremos eternos. Mas há uma diferença entre a eternidade de Deus e a nossa eternidade. Qual é, então, essa diferença?
1. A Eternidade de Deus.
Isso significa que Ele não teve começo, não tem fim, e está fora do tempo. Alguns textos fundamentais:
Aqui vemos que Deus existe antes da criação do tempo e do espaço. O hebraico usa a expressão “me-olam ve-ad olam”, que literalmente significa “de eternidade até eternidade”.
Deus habita a eternidade, ou seja, não apenas vive eternamente, mas sua morada está fora dos limites temporais.[2]
Deus é simultaneamente o passado, presente e futuro. É a auto existência e imutabilidade total.
Conclusão – A eternidade de Deus é atemporal e autoexistente. Ele não foi criado, não se desenvolve e não depende de nada fora d’Ele para existir. Ele sempre foi o que é.
2. A Eternidade em Relação aos Seres Criados
A Bíblia também usa o termo “eterno” para seres criados, mas em um sentido derivado, dependente e linear no tempo. Isso se aplica, por exemplo, aos anjos e aos seres humanos salvos.[3]
a) Anjos e Seres Espirituais
Ou seja, os anjos têm início, mas não têm fim, a menos que Deus o determine. Não são atemporais, nem autoexistentes. Mas foram criados na corrente do tempo.
b) Seres humanos salvos (vida eterna)
Conclusão – A eternidade dos seres criados é derivada, concedida, tem começo e depende da vontade e sustentação de Deus.
3. Diferença entre o Deus Eterno e a Criatura com Vida Eterna
A seguir, mostraremos a diferença entre Deus e as criaturas, no que se refere à eternidade. Vejamos:
Conclusão – Assim, Deus é eterno em sua natureza, a fonte da eternidade, as criaturas recebem eternidade de Deus.
II. A ETERNIDADE DE CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO
A eternidade de Jesus no Antigo Testamento é revelada de maneira poderosa, embora ainda não plenamente desenvolvida como no Novo Testamento. A revelação progressiva já antecipa que o Messias seria eterno, divino e pré-existente, jamais um ser criado.
Vamos organizar por evidências principais:
Análise:
Conclusão: O Messias que nasceria não estaria tendo início em Belém — ele já existia desde a eternidade. Isso é totalmente incompatível com a ideia de que ele foi criado.
Análise:
Conclusão: O Messias prometido é eterno em natureza, e não um ser criado. Ele é o doador da eternidade, não alguém que a recebeu.
Embora o Salmo 90:2 se refira originalmente a Deus Pai: No Novo Testamento, os atributos exclusivos de Deus são atribuídos a Cristo. Se Jesus não fosse eterno como o Pai, os apóstolos jamais o teriam identificado como tal.
Teofanias (Aparições de Cristo no Antigo Testamento)
Jesus aparece em várias ocasiões antes da encarnação, o que demonstra sua pré-existência consciente e ativa, algo impossível para um ser criado.
a) O Anjo do Senhor
b) Melquisedeque (Gênesis 14; Hebreus 7)
c) Daniel 7:13, 14 — O Filho do Homem eterno e digno de adoração
“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem […] e foi-lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos […] o servissem […] o seu domínio é eterno, que não passará…”
Análise:
Conclusão: O Antigo Testamento apresenta o Messias como alguém:
Conclusão – Portanto, qualquer doutrina que diga que Jesus foi “criado na eternidade” é uma contradição direta à revelação do Antigo Testamento. Jesus não foi criado, Ele sempre existiu, é eterno como o Pai.
III. A ETERNIDADE DE JESUS NO NOVO TESTAMENTO
A eternidade de Jesus no Novo Testamento é um dos pilares da fé cristã histórica. Os apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, não apenas confessaram a divindade de Cristo, mas deixaram claro que Ele é eterno, incriado e coeterno com o Pai. Vamos ver os principais textos:
Análise:
Conclusão: João deixa claro que o Verbo (Jesus) é eterno, divino, incriado e criador.
Análise:
Conclusão: Jesus se identifica com o Deus que sempre existiu — não pode ter sido criado.
Análise:
Portanto, se tudo é criado por meio de Jesus, e isso inclui o tempo e o espaço em qualquer mundo possível, tanto físico quanto espiritual, Jesus precede ao tempo e ao espaço, o que só pode ser possível se Jesus for o Deus verdadeiro, atemporal e a-espacial.
Análise:
Conclusão: Por Jesus, o Filho, ser a representação exata do ser de Deus, o Pai, tanto ele como seu Pai são o mesmo Deus desde toda a eternidade de Deus (ou estado atemporal de Deus). [7]
Análise
Conclusão – Jesus é tão eterno quanto Deus. É o que Orígenes ((c. 185–254 d.C.) – Primeiro a usar a expressão “gerado eternamente”. “O Filho é a eterna irradiação da glória do Pai… Ele é gerado eternamente, como a luz vem do sol.” (Comentário sobre João, II.10) Orígenes foi o primeiro a usar a ideia de geração eterna explicitamente. Ele comparava o Filho à luz que emana continuamente do sol — sem começo, sem separação.
Análise:
Conclusão – A Bíblia diz que Deus criou tudo sozinho. (Isaías 44:24) Se ela também diz que Deus, o Pai, usou o Filho para criar todas as coisas, então isso significa que o Filho tem que ser o mesmo Deus que o Pai, para que este único Deus crie tudo sozinho. Se acreditarmos que Deus usou uma criatura para criar tudo, então Deus não fez tudo sozinho.
Análise:
Conclusão – Isso só é possível se Jesus existia antes de todo tempo — ou seja, Ele é eterno.
Análise:
Conclusão – Por mais que os não-cristãos tentem vilipendiar a interpretação correta desse texto, dizendo que é Jeová quem está dizendo essas palavras, o texto mostra claramente que se trata de uma continuação das palavras de Jesus. Ele é o princípio (a causa primária) e o fim, o Alfa (a causa primária) e o Ômega.
Análise:
Conclusão – Só Deus pode ser o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, então, Jesus por receber esses títulos é tão eterno quanto Deus Pai.
Análise:
João 5:26 – Jesus e sua vida em si mesmo. “Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.” (João 5:26 – ARA)
Análise do texto:
(c) Como os teólogos cristãos interpretam isso?
Ou seja, o Filho tem a mesma vida divina que o Pai — não recebida num ato temporal, mas compartilhada eterna-mente.[11]
Conclusão: O Novo Testamento confirma a eternidade de Jesus. Vimos que:
Conclusão – Portanto, vimos nesses textos verdades que não deixam espaço para dúvidas: Jesus não foi criado, nem mesmo “na eternidade”. Ele é o próprio Deus eterno, coeterno com o Pai e o Espírito Santo. – Pr. Fernando Galli.
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[1] O tempo e o espaço são criações de Deus. A eternidade de Deus não é um tempo só para Ele, com passado, presente e futuro, que sempre existiu. O tempo é um ente à parte de Deus, por isso precisa ter um princípio. O mesmo dizemos do espaço, mesmo na esfera espiritual. Não faz parte de Deus. Se tempo e espaço fizessem parte de Deus, seriam Deus. Se não fazem, são criações. Se Deus precede ao tempo e ao espaço em qualquer mundo possível, físico ou espiritual, então Ele é Deus incriável.
[2] Deus está fora dos limites temporais porque é o Criador do tempo. O fato de Ele se manifestar no tempo não significa que Ele esteja circunscrito ou dependente ao tempo. Ele o faz apenas para se relacionar com suas criações inteligentes.
[3] Os anjos e os salvos que viverão por toda a eternidade não são eternos quanto às origens, pois passaram a existir, por ato criativo de Deus, por meio de Jesus Cristo.
[4] Alguns que questionam a eternidade inerente de Jesus mencionam a palavra “origens”, alegando que Deus não tem origem, mas as criaturas têm. Todavia, as “origens” aqui são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade, ou seja, uma forma de dar as credenciais do Salvador. Ele vem da eternidade.
[5] Alguns que negam a divindade de Jesus irão dizer: “O EU SOU de João 8:58 nada tem a ver o EU SEREI O QUE SEREI (Hebraico), traduzido na Septuaginta por “EU SOU O SER”. São termos diferentes. Mas na verdade, eles são sinônimos. Sabemos disso pela reação dos opositores de Jesus, que ao ouvirem dEle EU SOU, quiseram apedrejá-lo por blasfêmia. (João 8:59) Se Jesus apenas quisesse ter dito que era mais velho que Abraão, os judeus ali não iriam apedrejá-lo por blasfêmia, mas apenas iriam chamá-lo de louco.
[6] Os que negam a divindade de Jesus, e sua eternidade, irão dizer: “Se Jesus está no princípio com o Pai, é porque Ele tem princípio.” Se assim fosse, todavia, o Pai também teria princípio. Outros irão dizer que Jesus é um deus menor, e a ausência do artigo definido “o” para “Deus” se referindo a Jesus significa que Ele apenas era um ser divino por natureza. Mas se Ele é um ser divino por natureza, Ele é o Deus verdadeiro, pois apenas Deus pode ter natureza divina, o que implica em sua eternidade atemporal, ou seja, em seu estado eterno. O mesmo se aplica a Jesus.
[7] Os que negam a eternidade e divindade de Jesus irão fazer comparações esdrúxulas baseadas em Hebreus 1:3. Alguns deles pegam sua carteira de identidade e raciocinam: “Se eu fizer a cópia dessa carteira, a cópia terá menos tempo de vida do que a original”. Mas isso só é possível porque a original tem um princípio. Se ela não tivesse princípio, mas fosse eterna por natureza, sua cópia teria que ser tão eterna quanto ela, para ser uma representação exata dela. É exatamente este o caso de Jesus Cristo.
[8] Os que negam a divindade de Jesus e sua eternidade usarão em suas traduções, em vez de “resplendor”, a palavra “reflexo”. Tentarão de todas as formas usar dicionários bíblicos em grego para apoiar sua tradução como também possível. Todavia, Hebreus 1:3 diz que Jesus é a representação exata do ser de Deus, e um reflexo NUNCA É A REPRESENTAÇÃO EXATA DO SER DAQUILO QUE ELE REFLETE. Por isso, “resplendor” é perfeito. Assim, não há como admitir que entre, por exemplo, o Sol e seu resplendor haja um tempo que não houvesse resplendor, já que este existe desde que o sol existe. Se este sol fosse eterno, sem princípio, seu resplendor teria que ser também. É neste sentido que Jesus é gerado do Pai desde a eternidade.
[9] Os que negam a divindade de Jesus e sua eternidade irão dizer que Jesus é o primeiro e o último que morreu e foi ressuscitado diretamente por Jeová, já que as outras ressurreições de Jeová ele usou Jesus ou pessoas para fazer este milagre. Mas o texto de Apocalipse 1:17, 18 não diz que Jesus é o primeiro e o último PORQUE FOI RESSUSCITADO, ou porque esteve morto e agora vive. Na construção gramatical, as orações “Sou o Primeiro e o Último” e “estive morto e agora vivo” são orações independentes (orações coordenadas aditivas), e a primeira delas aponta para a divindade de Jesus e a segunda para sua humanidade.
[10] Os que negam a divindade e a eternidade do Filho tentarão afirmar que na ótica trinitária Jesus não é o mesmo ontem, hoje e eternamente, porque ele assume a natureza humana, mudando sua natureza. Todavia, Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente em sua natureza divina, que na união hipostática não se mistura com a natureza humana.
[11] Os que negam a divindade de Jesus irão tentar refutar isso da seguinte forma: “Jesus recebe vida em si mesmo do Pai, assim como os discípulos também recebem. E isso não significa que eles não tenham princípio como o Pai.” O texto que eles citam é: “Em verdade, em verdade vos digo que se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em vocês mesmos.” (João 6:53) Todavia, a vida sem princípio, ou vida autoexistente, é a “vida em si”. Observe que Jesus tem vida em si, porque a recebeu do Pai desde sempre. Mas Jesus não disse aos discípulos que eles terão “vida em si em vocês mesmos”, mas “vida em vocês mesmos”. Qualquer pessoa que herdar a vida eterna terá vida nela mesma, mas não vida em si nela mesma.