Quanto mais avançamos na história de vida de nossa amada irmã Maria, mais emocionados ficamos com seu exemplo. No episódio de hoje veremos como Maria demonstra fé no anúncio do anjo Gabriel de que ela daria à luz um Filho, como o anjo lhe explica que se dará a sua concepção, e como podemos imitar o exemplo dela.
Como Ficarei Grávida?
Assim que o anjo Gabriel anuncia a Maria que ela ficaria grávida e daria à luz a um filho, cujo nome deveria ser Jesus, Maria faz a seguinte pergunta ao anjo:
“Como isso poderá acontecer se não conheço na intimidade homem algum?” – Lucas 1:34.
Esta pergunta de Maria foi bem diferente da que Zacarias fez quando o mesmo anjo Gabriel anunciou que sua esposa Isabel ficaria grávida. Ele perguntou: “Como posso crer nisso?” (Lucas 1:18), indicando dúvida, descrença. O próprio anjo disse que Zacarias ficaria mudo por não ter crido no anúncio. (Lucas 1:19, 20) Não! A pergunta de Maria não vinha de um coração que duvidava, mas de um coração curioso, como toda mulher. Ela já tinha crido, mas sua curiosidade era óbvia, já que para se engravidar, principalmente naqueles idos onde não havia inseminação artificial, era necessário uma mulher ter relações sexuais com um homem. Ou seja, Maria tinha certeza que ficaria grávida. Só desejou saber como! E que Maria creu no anúncio feito pelo anjo fica evidente quando mais à frente ela vai visitar Isabel, sua prima grávida, e ouve dela: “Bem-aventurada a que creu que se cumprirão as coisas que lhe foram faladas da parte do Senhor”. – Lucas 1:45.
Sobre a fé que Maria depositou nas palavras do anjo, o comentarista bíblico R. N. Champlin afirma:
“Maria, monstrando-se digna representante das mulheres da mais profunda confiança no Senhor não requereu um sinal ou qualquer espécie de confirmação, mas aceitou a declaração por um notável ato de fé.” – R. N. Champlin. O Novo Testamento INterpretado Versículo por Versículo – Lucas e João, p. 16. Volume 2. São Paulo, Candeia, 1998.
Além disso, a pergunta de Maria “como isso poderá acontecer” não vinha de um coração pecaminoso, mas de coração puro, de uma mulher comprometida em fazer a vontade de Deus, que cumpria a Lei de Deus corretamente, por esperar o casamento para conhecer intimamente um homem. Como já dito em episódio passado, o exemplo dela constrange qualquer casal de namorados ou de noivos, que não sabem esperar o momento certo para desfrutar das relações sexuais – após o casamento.
A Resposta do Anjo Gabriel
O anjo Gabriel, evidentemente percebendo a fé de Maria, lhe responde. Eis a primeira parte de sua resposta:
“O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso aquele que nascerá será santo e será chamado Filho de Deus.” – Lucas1:35.
A riqueza teológica das palavras do anjo acima é inestimável! A doçura amável da ação divina aqui sobre Maria é de encher os olhos de lágrima! Deus vir sobre uma mulher, através de seu Espírito Santo, e não consumi-la, indica que Deus realmente amava Maria de uma forma muito especial. O poder do Altíssimo cobrir Maria é uma promessa gloriosa! Pois é impossível não se perceber aqui um paralelo entre o Espírito Santo descer sobre Maria com o Espírito Santo agir na criação sobre as águas. (Gênesis 1:2) Lembra-nos também quando Deus veio sobre o propiciatório, sobre a Arca do Pacto, para falar com Moisés (Êxodo 25:22), e mais à frente Deus, evidentemente através de seu Espírito, como Deus veio sobre o tabernáculo enchê-lo de glória, a ponto de Moisés nem poder entrar ali devido à glória de Deus ali. (Êxodo 40:34-38)* Em Gênesis 1:2, o Espírito Santo cria. Em Êxodo 25:22 e 40:34-38 o Espírito Santo cuida e protege. Exatamente o que o Espírito Santo faria: Cuidaria de Maria e criaria uma criança (o homem Jesus) no ventre dela.
Com isso em mente, o bom leitor da narrativa Bíblica de Lucas 1:35 perguntará ao texto: Por que Jesus será Santo e será chamado Filho de Deus? Basta olhar o texto e concluir: Porque o Espírito Santo virá sobre Maria e o poder de Deus a cobrirá. Ou seja, a narrativa visa explicar que o nascimento de Jesus não só seria de uma virgem, o que já é sobrenatural, mas seria por intervenção divina, de uma forma muito mais elevada do que em outros casos em que Deus usou um pai humano, idoso, para engravidar mulheres tristes com seu ventre estéril, como ocorreu com Abraão e Sara, Zacarias e Isabel. Desta feita, não há com Maria um pai humano, mas um Ser divino, que intervém de forma tal que Maria fique grávida do Espírito Santo e Jesus nasça Santo, sem o pecado original**.
Mãe do Filho de Deus.
Podemos afirmar que no sentido criativo todos nós somos filhos de Deus. No sentido salvífico, só os salvos são adotados como filhos espirituais de Deus, pela fé em Cristo Jesus. (João 1:12; Romanos 8:16, 17; Gálatas 3:26) Os anjos são também chamados de “filhos de Deus” (Jó 1:6; 2:1; 38:7), todavia são criaturas.
Maria se tornaria mãe do Filho de Deus. Jesus não é filho por ser criatura, e nem por ser anjo. Ele é Deus desde sempre. (João 1:1; 20:28; Romanos 9:5) Então, por que Jesus é chamado “Filho de Deus”? Porque ele é o único Filho tão Deus quanto seu Pai Divino. E ambos são o mesmo Deus. Maria não iria dar à luz um filho de Deus qualquer, mas alguém que é único Deus verdadeiro (1 João 5:20), único Senhor (1 Coríntios 8:5, 6), único Salvador (Atos 4:12), o Verbo que fez carne. (João 1:14) Assim, a Igreja a vê Maria, desde os primeiros séculos do Cristianismo, como mãe de Deus (theotókos), ou seja, uma mulher que dá à luz um filho humano que é Deus.
Bons teólogos e intérpretes da Igreja cristã reformada, para não separar as naturezas do Redentor, conforme o Concílio de Calcedônia definiu, preferem entender Maria como mãe do Deus-homem, na promessa do anjo Gabriel em Lucas 1:35, já que o Filho de Deus é Deus-homem para todo o sempre.
Mulher mais Santa, mãe do ‘todo-Santo’.
É impossível imaginar que, principalmente a partir da anunciação do Anjo Gabriel, com a promessa de proteção à Maria e de criação do homem Jesus, obra do Espírito Santo em Maria, que ela não recebesse de uma forma especial todo cuidado divino para continuar sua vida de santidade. Preparada dessa forma, Jesus não seria filho de uma mulher qualquer. Sendo ele Santo, totalmente puro, imaculado, sua mãe humana precisaria fazer jus a essa importante e ímpar missão. Inadimissível, então, afirmar que Maria fosse uma mulher qualquer, ou uma mulher exemplar como qualquer outra. Defendo que Deus escolheu desde a eternidade, por critérios próprios, a mulher mais correta de todas. É uma crença pessoal, sem a menor intenção de transformar isso em doutrina. Mas parece ser muito óbvio.
Imitemos Maria em Sua Fé
Tantos duvidaram na história do povo de Deus. Mas Maria deu o exemplo certo e perfeito. Ela creu sem duvidar. Ela não fez como Sara, que riu quando soube que ficaria grávida. Sara riu porque achou impossível. Zacarias, conforme vimos, duvidou. Mas Maria depositou fé nas palavras de Deus transmitidas pelo anjo Gabriel.
Então, perguntamos: Demonstramos a Deus semelhante fé? Visto que Deus veio como homem, na pessoa do Filho, nascer de uma mulher tão especial, será que duvidamos de outras passagens da Bíblia que nos parecem impossíveis, como os milagres de Jesus, sua ressurreição, suas aparições? Será que duvidamos de que a Bíblia é a inerrante Palavra de Deus? Será que questionamos o cumprimento das promessas de Deus sobre a futura volta de Cristo, para julgar os vivos e os mortos?
Meditar no exemplo de fé de Maria, que creu que dela viria o Messias, o Deus-homem, o Salvador, nos ajudará a crer que Jesus certamente um dia voltará. A Ele toda honra, glória e louvor, pelos séculos dos séculos. Amém! – Pr. Fernando Galli.
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* Meu posicionamento baseia-se no teólogo e comentarista bíblico reformado William Hendriksen, em Comentário do Novo Testamento – Lucas, Volume 1, p. 129, Editora Cultura Cristã, onde ele afirma a mesma coisa.
** Aos nossos irmãos católicos, dizemos que não cremos que Maria nasceu sem pecado. Cremos que a intervenção do Espírito de Deus foi de tal maneira que Ele impediu que o pecado original de Maria fosse transmitido para o feto. Todavia, isso não nos faz admirar e ser gratos pelo maravilhoso exemplo dela, muito menos achar que ela fosse uma pecadora como nós. Particularmente, defendo o que me parece ser óbvio: Embora nascesse debaixo do pecado adâmico, certamente foi a mulher mais santa de todas as que já viveram.