INÍCIO       MENU EPISÓDIOS

Nos episódios anteriores, aprendemos com a Bíblia como Deus, desde a eternidade, preparou tudo para que Jesus nascesse de Maria. Ele desde a eternidade a havia eleito e predestinado. Agora, chegamos num momento lindo da história de Maria. Neste episódio, um anjo do céu aparece a ela para lhe dar um importante anúncio. Mas antes de dar esse anúncio, ele se dirige a ela com palavras de grande riqueza teológica para a Igreja de Cristo. 

O Anjo Gabriel Aparece a Maria

Num certo dia, no sexto mês de gravidez de Isabel, prima de Maria (Lucas 1:26), um anjo enviado por Deus chamado Gabriel apareceu a Maria. Este mesmo Anjo já havia sido visto uns 500 anos antes, e o profeta Daniel registou este aparecimento em seu livro, em dois textos. No primeiro texto, um homem pede a Gabriel* para que fizesse Daniel entender a visão sobre um carneiro com dois chifres e um bode. Esta visão tinha que ver com uma libertação que os judeus teriam maisà frente, bem como à purificação do templo judaico. (Daniel 8:1-16) E no segundo texto, o anjo Gabriel mostra a Daniel a profecia das Setenta Semanas, para se saber quando surgiria o Messias. – Daniel 9:24-27.

Também, antes de visitar Maria, o anjo Gabriel havia aparecido a Zacarias, esposo de Isabel, prima de Maria, para anunciar que ele seria pai. Este seria João Batista, que iria adiante do Senhor para preparar o caminho de Jesus, conforme Isaías havia profetizado. (Mateus 3:1-3; compare com Isaías 40:3;  Lucas 1:10-25) Portanto, este anjo provavelmente ocupava uma posição de altíssimo escalão no céu, primeiro porque apenas ele e Miguel são mencionados na Bíblia por nome. (Daniel 12:1) Segundo, porque o próprio anjo Gabriel disse, ao se apresentar a Zacarias: “Eu sou Gabriel, e sempre estou diante (em grego: “que permanece perante”) de Deus”. – Lucas 1:19.

Assim, Gabriel é um anjo muito próximo a Deus, enviado para dar notícias referentes (1) à libertação e purificação do povo de Deus e de sua adoração e (2) ao Messias, como (a) anunciar sua vinda na Profecia das Setenta Semanas, (b) o nascimento daquele que viria para anunciar Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29) e (c) o nascimento do Salvador. E certamente Gabriel sentiu-se muito feliz em ter este privilégio, de anunciar que o Salvador viria ao mundo, e que ele nasceria de Maria. Um anjo importantíssimo dando boas notícias para uma mulher importantíssima na história da Salvação em Cristo Jesus! (Atos 4:12) Com quais palavras o anjo Gabriel inicia a conversa com Maria?

Cheia de Graça!

O relato bíblico narra da seguinte forma como o anjo Gabriel inicia a anunciação a Maria:

“Alegra-te, agraciada*. O Senhor está contigo!” (Lucas 1:28) Maria, sabendo que essa saudação era muito diferente das outras na história do povo de Deus, se perturbou. Achou estranho. (Lucas 1:29) Mas o anjo Gabriel a acalma com as palavras: “Não temas, Maria; pois encontraste graça diante de Deus”. – Lucas 1:30.

Mas afinal de contas, o anjo disse que Maria era cheia de graça ou que ela foi agraciada? Precisamos olhar o texto grego. Vejamos:

“καὶ εἰσελθὼν πρὸς αὐτὴν εἶπεν Χαῖρε, κεχαριτωμένη, ὁ Κύριος μετὰ σοῦ.” – Lucas 1:28.

Literalmente, o texto reza: “E tendo vindo [ou entrado] para ela, disse: ‘Salve’ [ou alegra-te] , cheia de graça (ou agraciada). O Senhor [está contigo].” – Lucas 1:28.

No grego, a palavra grega “κεχαριτωμένη” (kecharitoméne) é um particípio perfeito passivo, ou seja, se é passivo, o texto não foi escrito para ensinar que Maria dá graça aos outros, mas que ela foi cheia da graça de Deus. Se ela foi cheia, ela é cheia de graça. São Jerônimo, na Bíblia Vulgata Latina, traduziu “κεχαριτωμένη” por “gratiae plena”, isto, “cheia de graça”, “graça plena”. Mas com isso não se quer afirmar que em Maria está toda a graça de Deus, em toda a sua plenitude, mas que a graça foi dada a ela. Assim como também na expressão “cheios do Espírito Santo” não significa que os cristãos possuem todo o Espírito Santo de Deus em toda a plenitude dele. (Atos 2:4) Maria é cheia de graça porque foi muitíssimamente agraciada, não apenas para a salvação, mas para o privilégio ímpar que recebeu, e pelo respeito devido que seu nome e sua história possui. 

Alguns, devido às discussões teológicas entre católicos e protestantes/evangélicos, com o intuito de discordar do Catolicismo Romano, dizem que Maria não se torna mais especial que ninguém por ser chamada de “κεχαριτωμένη” (cheia de graça, ou mui agraciada), já que nós também recebemos a salvação pela graça. Todavia, Maria, além de receber a salvação pela graça de Deus recebeu uma honra que nenhuma outra mulher na terra teve ou terá, de ser a mãe do Deus-homem, Jesus. Não precisamos ter medo de crer nessa verdade, desde que não sejamos tentados a ir além do que está escrito, como disse Paulo, em 1 Coríntios 4:6. Nada demais em afirmar Maria como cheia da graça que ela recebeu, e de forma maravilhosa, inigualável.**

O anjo também diz a Maria: “Alegra-te”. A palavra grega usada é “Χαῖρε“. Era um cumprimento convidando a pessoa a regozijar-se. (Dicionário W. E. Vine, p. 968) Não apenas por ser alvo da graça de Deus, mas o modo como Deus derramaria essa graça sobre ela.

Lições que Aprendemos de Maria Ser Cheia de Graça

Quando estamos entre pessoas cheias de graça, estamos entre família. Nossa verdadeira família é a Igreja. O anjo Gabriel veio até onde ela estava. O verbo grego permite entender que ele entrou onde ela estava. Ou seja, é como se ele e ela já fossem amigos. A Bíblia diz que “o anjo do SENHOR acampa ao redor dos que o temem e os livra”. (Salmos 34:7) Quando estudamos o ministério dos anjos, percebemos como eles agem em favor do povo de Deus. Essa forma como o anjo Gabriel aparece do nada, “entrando” em contato com Maria, já dizendo palavras de alegria e de bênção, mostra-nos como Deus nos proporciona a paz e a tranquilidade quando estamos entre amigos e irmãos, quando achamos graça diante de Deus.

Na Bíblia, quando anjos aparecem a certas pessoas, há uma manifestação de medo, de temor forte, mas com Maria foi diferente. Elas apenas estranhou aquela saudação, jamais vista a um servo de Deus. Sua tranquilidade, ao ver de alguns intérpretes, poderia ser uma evidência de sua intimidade com Deus, e de sua fé no vindouro Salvador!

Sobre ser cheio de graça, Deus também dá a sua graça a todos nós. A Bíblia diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8) Graça é um favor imerecido. Por que imerecido? Porque somos pecadores. Diz a Bíblia que todos pecaram e não atingem a glória de Deus. (Romanos 3:23) Mesmo assim, por amor a nós, Deus decidiu nos dar de sua graça. A graça de Deus é salvífica, mas além da salvação, a sua graça nos provê encorajamento através de pessoas fiéis a Deus. Maria, dentre tantos heróis da fé, foi uma forma de Deus manifestar sua graça, tanto por nos dar Jesus através dela, por obra do Espírito Santo, como por nos ter dado o exemplo dela. Será que somos maleáveis às mãos de Deus, humildes, como forma de agradecer a Deus por Jesus ter vindo aqui nascer de Maria para morrer por nós? Se assim formos, seremos também uma manifestação da graça de Deus àqueles que precisam de encorajamento para prosseguir na fé.

Nos próximos episódios, veremos como o anjo Gabriel anuncia a Maria sobre a vinda de Jesus, e que qualidade Maria demonstrou ao conversar com Gabriel. – Pr. Fernando Galli. 

_____

* Gabriel, em hebraico, significa “Deus, o Poderoso”. 

** Sobre a tradução de “κεχαριτωμένη” por “graça plena” ou “cheia de graça”, o comentarista bíblico William Hendiksen afirmou:

“Aqui, em sua versão latina (a Vulgata), Jerônimo traduziu gratiae plena, cheia de graça; não é um a má tradução, a não ser que seja interpretada erroneamente no sentido de: “Maria, você está cheia de graça, a qual está à sua disposição para outorgar a outros”. O verdadeiro sentido é: “Você está cheia da graça que recebeu … você é, num sentido singular, um a pessoa divinamente favorecida”. O contexto imediatamente seguinte prova que esta interpretação é correta, pois o anjo acrescenta: “O Senhor seja com você”.” – Comentário do Novo Testamento – Lucas, p. 124. Volume 1. Cultura Cristã, São Paulo, 2003.