Nos episódios anteriores aprendemos que a eleita e predestinada virgem Maria, a jovem nascida em Nazaré, recebeu a visita do Anjo Gabriel, o qual a cumprimenta com a frase “alegra-te […] cheia de graça”. Naquela esfera de paz, o anjo veio trazer a Maria um importantíssimo anúncio, que mudaria sua vida para sempre. Que anúncio foi esse e o que ele significa para todos nós?
Ficarás Grávida!
Como já aprendemos, José e Maria eram noivos prometidos em casamento um ao outro. Maria era virgem. O sonho de toda mulher judia pura era se casar e dar filhos a seu esposo. Constituir uma descendência era sinal da bênção de Deus. Também, toda judia de fé aguardava a vinda do Messias para libertar o povo de Deus daquele mundo de pecado e sofrimento.
Todavia, antes que Maria se casasse com José, o anjo Gabriel aparece a ela e lhe diz:
“Ficarás grávida e darás à luz um filho, a quem darás o nome de Jesus. Ele será grande e se chamará Filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará eternamente sobre a descendência de Jacó, e seu reino não terá fim.” – Lucas 1:31-33.
O que tem essas palavras de tão incomum? Afinal, Maria poderia ter entendido, das palavras do anjo Gabriel, que ela teria um filho com José, quando ela se casasse com ele. Mas Maria não entendeu isso. Entendeu que este Filho não seria uma criança qualquer. Por quê? Porque além de sua intimidade com Deus, ela conhecia as Escrituras, e com certeza ela percebeu a semelhança entre o início da profecia de Isaías 7:14 com as palavras do anjo. Veja:
Isaías 7:14 – הָעַלְמָ֗ה הָרָה֙ וְיֹלֶ֣דֶת בֵּ֔ן – “E a virgem (donzela) ficará grávida e dará à luz um filho”.
Lucas 1:31 – συλλήμψῃ ἐν γαστρὶ καὶ τέξῃ υἱόν – “E conceberás em teu ventre e dará à luz um filho”.
Assim, Maria percebeu que o anjo anunciava o cumprimento da profecia de Isaías 7:14 nela. Somente uma mulher muito próxima de Deus e das Escrituras Sagradas poderia ter percebido isso. Por isso que em Lucas 1:34 ela pergunta como ela ficaria grávida se não estava casada ainda, ou seja, se ela não mantinha relações sexuais com um homem.
Além disso, as palavras seguintes do anjo também prometem a Maria que este Filho não seria concebido por um pai humano, portanto, cumpriria outras profecias. Observe:
Primero, ela deveria chamar a criança pelo nome “Jesus”. O nome “Jesus” vem do hebraico “Yeshua”, e significa “Yahveh é a Salvação”. Assim, a criança seria o Deus-Salvador. Lemos em Isaías 43:11 o próprio Yahweh dizer: “Eu sou Yahvew, e além de mim não há Salvador”. Jesus é Yahweh, como Deus. Por isso que João Batista cumpre a profecia de Isaías 40:3, preparando o caminho de Yahweh. (Mateus 3:3) E João Batista preparou o caminho de Jesus. Portanto, Jesus é o Deus Yahweh, na pessoa do Filho.
Segundo, este se chamaria Filho do Altíssimo, não filho de José. E Filho do Altíssimo lembra a profecia de Isaías 9:6, 7, onde lemos: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido. O governo está sobre os seus ombros, e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. O seu domínio aumentará, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para estabelecê-lo e firmá-lo em retidão e em justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isso.”
Sendo assim, Maria em seu coração e mente voltados para Deus e sua palavra, em sua pureza moral e espiritual, não teve dificuldade alguma de entender, mesmo que de forma limitada ainda*, que ela seria mãe de um menino que era o próprio Deus encarnado, ou seja, o Deus-homem, Jesus.
Os teólogos cristãos sabem muito bem que Deus revela todas as bases para a Doutrina da Trindade no Novo Testamento. Não seria nenhum exagero afirmar que Maria foi a primeira pessoa da Igreja de Cristo a receber a revelação da divindade de Jesus, o Deus-homem, o Filho do Altíssimo.**
Terceiro, quando o anjo Gabriel anuncia a Maria que seu Filho receberia do Senhor o torno de Davi, seu pai, e ele reinaria eternamente sobre a descendência de Jacó (o povo de Deus) seria impossível Maria ter concluído que seu Filho seria um mero humano filho dela com José. Humanos não reinam eternamente! Só Deus!
O que Aprendemos?
O valor teológico de Lucas 1:31-33 é de uma riqueza fenomenal. Vejamos os motivos:
Primeiro, revela o nosso Deus como o Altíssimo. Ele é o Todo-Poderoso. “Altíssimo” indica aquele que está sobre todos, por ser o Criador de tudo e todos.
Segundo, revela Jesus como sendo Deus. Na expressão “Filho do Altíssimo”, encontramos por trás das linhas que Jesus é Filho de Deus. Mas nós também somos filhos de Deus, não é verdade? Somos, mas não no mesmo sentido que Jesus é. Jesus é o Filho único de Deus. (João 3:16) Por quê? Porque ele é o único Filho tão igual ao Pai em divindade. Jesus é tão Deus quanto o Pai, não outro Deus, mas o mesmo!
Terceiro, revela o amor de Deus em nos salvar. O homem não podia ir até Deus, então Deus vem até nós na pessoa do Filho, como Deus-homem para nos salvar. Assim como no Éden, quando o homem peca, Deus vem até ele, sacrifica um animal e lhe dá roupas da pele desse animal para cobrir o homem de sua nudez (Gênesis 3:21), desta vez Deus se faz carne e oferece não roupas, mas sua própria vida como sacrifício, na pessoa do Filho, para nos salvar e nos dar vestes embranquecidas no sangue do Cordeiro. – Apocalipse 7:13, 14.
Quarto, este Deus Todo-Poderoso faz maravilhas impossíveis aos homens. Ao mesmo tempo que é Pai de Maria, se faz Deus-Filho dela. Ao mesmo tempo que Maria é filha de Deus, a torna mãe do Deus-homem. Sim, e encarnação do Verbo (João 1:14) é loucura para os homens, principalmente os machistas, que são obrigados a ver Deus trazer o Salvador ao mundo através de uma mulher.
Quinto, Deus escolhe pessoas certas e ideais para privilégios maravilhosos. Mesmo que não tivemos um grande privilégio como o de Maria, Deus nos usa na Igreja e como Igreja para pregarmos o evangelho (Mateus 28:19, 20) e termos sempre bastante o que fazer na obra do Senhor. (1 Coríntios 15:58) Assim, precisamos aceitar em nossas vidas os designios de Deus, assim como Maria fez.
Sexto, quanto mais íntimos formos de Deus e de sua Palavra, a Bíblia, e mais santos formos na caminhada cristã, com maior facilidade reconheceremos o agir de Deus em nossas vidas e aceitaremos sua boa palavra se realizar em nós, sem questionar.
No próximo episódio, veremos que, mesmo Maria entendendo com facilidade sua missão, o anjo a deixou curiosa: Como ela ficaria grávida de alguém que seria Deus-homem? Não perca! – Pr. Fernando Galli.
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* De forma limitada porque Maria ainda receberia outras revelações do próprio Cristo sobre sua identidade, e dos apóstolos usados por Deus para ampliar a compreensão da divindade de Cristo.
** Jesus não é Filho de Deus na mesma acepção que nós somos filhos de Deus. Nós somos filhos de Deus adotados (Romanos 8:16, 17) pela fé em Cristo Jesus (Gálatas 3:26), quando recebemos Cristo em nossas vidas. (João 1:12) Jesus é o Filho de Deus por ser o único Filho igual ao Pai em divindade, e ao mesmo tempo o mesmo Deus que o Pai.