A IASD apregoa a doutrina de que quando o homem morre, ele deixa de existir, sendo este recriado na ressurreição dos mortos. Mas a Igreja Cristã ensina mediante a Bíblia que o homem não deixa de existir, posto que seu espírito (ou alma) sobrevive à morte do corpo. Um dos textos usados para provar a fé cristã é Apocalipse 6:9-11. Ali lemos:
“Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho que deram. Eles clamaram em alta voz, dizendo: Ó Soberano, santo e verdadeiro, até quando aguardarás para julgar os que habitam sobre a terra e vingar o nosso sangue? Cada um deles recebeu túnicas brancas e lhes foi falado que repousassem ainda por um pouco mais de tempo, até que se completasse o número de seus conservos que haveriam de ser mortos, assim como eles também haviam sido.” – Apocalipse 6:9-11.
O texto é muito claro. João viu as almas dos que foram mortos, as viu também clamando com palavras delas, pedindo a Deus justiça, e alguém no texto, provavelmente sob a ordem de Deus, responde a elas, pedindo que repousem mais um pouco, até que outros mártires sejam mortos e o número deles seja completado. E como se não bastasse, o texto ainda diz que cada uma dessas almas recebeu túnicas ou vestes brancas.
Mas a IASD, e seu apologista, e também pastor, Leandro Quadros*, certamente sob a influência dos escritos de sua profetisa Ellen G. White, supostamente tão inspirados quanto à Bíblia, escreveu um texto em seu site explicando o que são essas almas. Com vocês, uma refutação do texto do nosso amigo e Leandro Quadros**. Vejamos:
PR. LEANDRO QUADROS – “O altar apresentado no quadro profético era provavelmente reminiscências do altar de bronze do santuário dos hebreus, e os mártires podem ser lembrados como sacrifícios apresentados a Deus. Como o sangue das vítimas era derramado na base do altar, e a vida da carne está no sangue, assim as almas daqueles que foram martirizados são comparadas como estando debaixo do altar” (Comentário Bíblico Adventista, Apocalipse 6:9).
RESPOSTA CRISTÃ – “Não há dúvida de que seja indissociável a visão de João com o altar de bronze no santuário dos hebreus. Mas indissociável não implica similaridade absoluta. Não há dúvida de que eles morreram como sacrifício, por isso são mártires. Não há dúvida de que a vida está no sangue de cada mártir. O altar aparece ali na visão de João exatamente para mostrar que muito sangue foi derramado, provavelmente de milhares de filhos de Deus, por darem testemunho da verdade. Mas o texto bíblico de Apocalipse não apresenta João vendo o sangue ali derramado; apresenta João vendo almas, reclamando seu sangue derramado, dialogando com Deus, e recebendo túnicas brancas. Não apresenta uma quantidade de sangue implorando a Deus para vingar o sangue dos sangues (almas) que estão clamando. João viu pessoas outrora mortas,e portanto, não poderiam estar no Santuário terrestre, no altar.
Alguns adventistas irão dizer, como resposta, que Deus viu o sangue de Abel clamando, quando Caim assassinou seu irmão. Lemos em Gênesis 4:10: “O sangue de teu irmão está clamando a mim desde a terra”. Mas essa comparação é falaciosa, pois uma coisa é ver uma pessoa morta e dizer que o sangue dela ali está clamando, outra coisa é ver almas clamando por vingança pelo seu sangue derramado, com discurso, resposta divina a elas, pedindo que elas esperassem, e ainda por cima essas almas recebendo roupas. Então, João não viu sangue derramado no altar. Essas pessoas haviam sido mortas e falavam, eram respondidas, recebiam roupas, e isso não é vida após a morte?
No afã de defender suas crenças, o pastor adventista Leandro Quadros cita um comentário da Bíblia de Jerusalém. Observe:
PR. LEANDRO QUANDROS – “O altar corresponde nesta liturgia celeste ao altar dos holocaustos (1Reis 8:64). Os mártires, testemunhas da Palavra, são associados à imolação de seu Mestre (Filipenses 2:7). Segundo a concepção bíblica e oriental, a vida reside no sangue. Aqui as vidas dos mártires estão ‘escorrendo’ para a base do altar celeste onde se consumam os seus sacrifícios cruentos (Levíticos 4:7)” (A Bíblia de Jerusalém, Apocalipse 6:9).”
RESPOSTA CRISTÃ – As Bíblias de Jerusalém que possuo não contém toda essa citação. Apenas a frase que vemos no print abaixo: “O altar […] mestre (Filipenses 2:7)”. Observe:
Essa declaração de sangue escorrendo não consta nos versos da Bíblia de Jerusalém que possuo. E como vimos anteriormente, João não viu sangue escorrendo falando com Deus, cobrando justiça contra os que derramaram o sangue do sangue escorrendo. Isso seria uma piada. De qualquer forma, não é correto o Pr. Leandro Quadros usar um comentário de uma Bíblia que defende a imortalidade da alma como prova de que não existe vida após a morte.
Mas o Pr. Leandro Quadros continua…
PR. LEANDRO QUADROS – As “almas debaixo do altar”, apresentadas por João nesta passagem, são uma representação simbólica aos filhos de Deus, que foram martirizados na Idade Média por causa do Evangelho. O sangue ou a vida que seus perseguidores derramaram simbolicamente clama a Deus pedindo vingança, a exemplo do sangue de Abel, em Gênesis 4:10, que clamava a Deus. Se o altar do sacrifício estava sobre a terra, e as almas são representadas como estando debaixo do altar do sacrifício, consequentemente não eram almas que estavam no Céu.”
RESPOSTA CRISTÃ – O interessante é que o Pr. Leandro Quadros citou anteriormente a Bíblia de Jerusalém para defender sua tese. Nessa citação, a referida Bíblia de Jerusalém, numa versão diferente da nossa, afirmou que o sangue dos mártires está correndo para “a base do altar celeste onde se consumam os seus sacrifícios cruentos”. Então, se a Bíblia de Jerusalém menciona o altar celeste, para o Pr. Leandro Quadros esse altar não é mais o celeste, e sim o terrestre? Por que essa mudança? Só para encontrar base para se afirmar: “Se as almas estão debaixo de um altar terrestre, elas não podem estar nos céus”? Que Interessante! Quando os adventistas querem provar a doutrina do juízo investigativo, então eles afirmam que o santuário terrestre é uma cópia do santuário celestial. Mas parece que ao explicar essa passagem de Apocalipse 6:9-11, o Pr. Leandro Quadros se esqueceu dessa verdade adventista, não é mesmo?
Muito melhor é afirmar que esse altar é uma visão simbólica de almas no céu, pois o sacrifício tem, de acordo com a Bíblia de Jerusalém o sangue derramado dos mártires escoa para o céu, onde e consumam os seus sacrifícios cruentos, já que Levítico 4:7 menciona o sangue de animais sendo posto diante do SENHOR.
Vamos para a próxima alegação do renomado Pr. Leandro Quadros?
PR. LEANDRO QUADROS – O que deixa a muitos leitores perplexos nesta passagem é o conceito popular, mas antiescriturístico, da palavra alma – uma essência imaterial, invisível e imortal que existe no homem. O conhecimento da palavra no original hebraico e grego jamais admite tal definição. Dentre seus múltiplos significados, se destacam também os de vida e pessoa. Este é o caso de Apocalipse 6:9, onde as “almas debaixo do altar” simbolizam pessoas, isto é, os mártires, sendo altar simbólico de sacrifício ou martírio. Seria um disparate indescritível a aceitação literal de que essas almas estivessem presas, debaixo de um altar no Céu.
RESPOSTA CRISTÃ – Sobre se a palavra ‘alma’ pode referir-se ou não à parte imaterial do homem que sobrevive à morte do corpo, o texto de Apocalipse 6:9-11 responde por si só. Usar outros significados de ‘alma’, em outros textos bíblicos para encaixá-los em Apocalipse 6:9-11 é perigoso. Se significa ‘vida’ e ‘pessoa’, conforme o Pr. Leandro Quadros, então precisamos ver se cabe no texto essa interpretação. Perguntamos:
(a) Cairia bem lermos “eu vi as vidas dos que tinham sido mortos”? Não, pois ficaria muito vago e até estranho ver vidas de quem foi morto.
(b) E ‘pessoas’? De forma alguma! Seria correto dizer que João viu ‘as pessoas dos que foram mortos”? É óbvio que não! João viu algo que as pessoas têm: almas (ou espíritos). Elas estão bem vivas após a morte.
E sobre a alegação de almas estarem presas debaixo do altar? Bem, os adventistas, nessa particularidade, se perdem na argumentação. Acima, o prezado Pr. Leandro Quadros afirmou que “almas” em Apocalipse 6:9-11 se referem a ‘pessoas’ ou ‘vidas’. Elas estariam presas debaixo do altar? São pessoas de fato presas? Vidas presas ali?
Portanto, a argumentação do apologista adventista não resolve muito. João, em contrapartida, poderia ter visto um altar, e debaixo da visão do altar as almas dos que foram mortos. Ou ter visto um altar imenso, já que se tratava de uma visão, ou será que somos obrigados a crer que há no céu um altar com as mesmas medidas que o do Santuário terrestre mencionado no AT?
O argumento de que espíritos não poderiam caber ou ficar todos espremidos na região debaixo do altar se desfaz com a pergunta: Nesse compartimento, caberia todo o sangue dos milhares de mártires ali? Obviamente que não! Assim, melhor é deixar o texto falar com maior naturalidade e entender que as almas dos que foram mortos são pessoas-espíritos, clamando por justiça.
Vejamos, a seguir, o próximo argumento do querido Pr. Leandro Quadros:
PR LEANDRO QUADROS – “Se aceitássemos o relato como real, essas almas no Céu, e os seus ímpios perseguidores no inferno, segundo a crença popular, qual a razão de clamarem ainda por vingança, já que os seus torturadores estavam pagando seu merecido castigo?”
RESPOSTA CRISTÃ – Uma pergunta dessas demonstra fuga do que se é plenamente observado à nossa volta. Quando um bandido é preso por assassinato, ele aguarda o julgamento. A família da vítima, mesmo com o assassino preso, clama por justiça. A diferença é que o clamor por justiça da parte da família se deve ao medo de que justiça não seja feita, mas o clamor por justiça das almas dos que foram mortos se dá porque desejam ver logo cumpridos os julgamentos divinos. A Bíblia diz que haverá uma ressurreição de justos e de injustos, e os injustos serão julgados. Eles já estão presos no hades, em tormentos, segundo a parábola do Rico e do Lázaro. (Lucas 16:22, 23) Outro motivo também é que de acordo com Jesus, no dia do juízo haverá graus maiores e menores de punição. (Mateus 11:22) Que alívio e consolo seria para aquelas almas dos que morreram saberem que Deus finalmente executou o veredicto dado a elas, e isso certamente explicaria o desejo de que Deus se vingue com toda a justiça desses condenados, principalmente após o veredicto final, com seus respectivos rigores.
O Pr. Leandro Quadros assim se expressa, continuando:
PR. LEANDRO QUADROS – Esta passagem traz uma mensagem de conforto para os que sofreram, sofrem e sofrerão por Cristo: o cuidado incessante de Deus em favor dos que aceitaram o Seu plano de salvação. Muitos não podem compreender por que Deus permite que alguns de Seus filhos fiéis sejam maltratados pelos ímpios. Embora o procedimento divino, por vezes, esteja além de nossa limitada compreensão, de uma coisa podemos ter certeza: Deus fará justiça dando o galardão aos fiéis e deixando que os ímpios sejam destruídos.
RESPOSTA CRISTÃ – Concordamos sim com o prezado pastor Leandro Quadros que esta passagem de Apocalipse 6:9-11 traz consolo para os que sofreram, mas traz também para os que estão clamando por justiça, já que a resposta dada aos seus clamores reforça que a vingança divina virá, e elas podem certamente aguardar por isso! O texto poderia afirmar que João viu debaixo do altar o sangue dos que foram mortos, e depois narrar alguém consolando os leitores dessa narrativa de que um dia Deus fará justiça. Mas não! O texto faz questão de inserir uma conversa entre as almas dos que foram mortos e Deus (ou alguém usado por Deus), e ainda fala dessas almas vestirem roupas. É inadmissivel não entender que haja vida após a morte aqui.
Quanto ao argumento de que os ímpios serão destruídos, discordamos, porque se fala de castigo eterno, punição eterna, decepamento eterno, sofrimento eterno em vários textos da Bíblia. “Serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos” é irrefutável, a menos que forcemos uma interpretação que massageie nosso ego teológico. – Mateus 25:46; Apocalipse 20:10, 14.
Por fim, nosso estimado Pr. Leandro Quadros termina seu texto com os dizeres:
PR. LEANDRO QUADROS – No capítulo seis de Apocalipse, João apresenta uma profecia dos acontecimentos que se realizariam durante a era cristã. A referência às “almas debaixo do altar”, do verso 9, relaciona-se com a época da Reforma. Tanto a história secular quanto a sagrada nos informam que milhares e milhares dos chamados hereges foram barbaramente massacrados e mortos por todos os meios imagináveis. Felizmente, este estado de coisas teve o seu fim, com o protesto dos príncipes na Dieta de Spira, em 1529, e o incremento da Reforma através de toda a Europa. O contexto geral das Escrituras nos impede de tomar esta passagem em seu sentido literal, pois, se assim fosse, teríamos de aceitar a morte e o inferno cavalgando um cavalo literal através da Terra.
RESPOSTA CRISTÃ – A Bíblia, em momento algum, afirma que essas almas se referem aos mártires só na época da reforma. Isso provavelmente é invenção da profetisaadventista. Duvido que não encontremos nos escritos dela algo que dê a entender essa interpretação. A Igreja já desde seus primeiríssimos cristãos teve mártires. A visão de João pretende mostrar que tanto nós ansiamos pela justiça de Deus, quanto os mártires no paraíso que aguardam por justiça, pois aqui e lá somos uma só igreja de Cristo.
Sobre a declaração do Pr. Leandro Quadros de que na reforma protestante milhares e milhares de cristãos foram mortos , e estes seriam “as almas dos que foram mortos”, vemos que aquele argumento adventista de como é possível milhares e milhares de espíritos serem vistos debaixo de um altar com dimensões pequenas não faz o menor sentido. Pois se o levássemos a sério, perguntaríamos: como poderia caber nesse mesmo local milhares e milhares de litros de sangue de todos esses mártires?
A Interpretação Correta de Apocalipse 6:9-11
As almas dos que haviam sido mortos se referem a todos os mártires, de todas as eras da Igreja, que partiram para estar com Cristo, porque foram fiéis. Paulo foi um deles. Por isso, para ele morrer é lucro. (Filipenses 1:21) O clamor por justiça não se trata de vingança pessoal, mas do desejo sincero de salvos nos céus, que não sabem quando será a volta de Cristo, de ver o julgamento final sendo aplicado, com seus devidos veredictos e rigores para cada condenado. Isto nos lembra a parábola do Juiz Injusto, Jesus disse:
“E Deus não fará justiça aos escolhidos, que dia e noite clamam a ele, mesmo que pareça demorado em responder-lhes? Digo-vos que depressa lhes fará justiça.” – Lucas 18:7, 8.
Assim também esperam as almas dos que “foram mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho que dela tinham prestado”. – Bíblia de Jeresalém.
Estas almas precisam esperar. Esperar, nesse texto, é um ato de quem está vivo, não de quem não existe. Nosso amado pastor e comentarista Bíblico, Hernandes Dias Lopes, afirma sobre isso:
“Esse é o clamor da igreja diante dos massacres: arenas, piras, campos de concentração, prisões, câmaras de gás, fornos crematórios. Não é o próprio grito de lamentação, mas o lamento pela honra de Deus.” – Apocalipse, o Futuro Chegou, p. 179. Editora Hagnos, São Paulo, 2010.
Conclusão
Damos graças a Deus pelo Espírito Santo, que nos conduz a toda a verdade. (João 16:13, 14) O homem, de qualquer era da história, ou local da geografia, sempre creu numa divindade (com poucas exceções), pois Deus colocou essa sensibilidade nele: Existe um Deus acima de nós. Houve muitas deturpações, é claro, mas a essência sempre foi a mesma: Há Deus. Da mesma forma, o homem, de qualquer era da história ou local da geografia, sempre creu na vida após a morte (com poucas exceções). Houve muitas deturpações. Mas a essência sempre foi a mesma: Há vida após a morte. E esse ensino nos foi revelado por Deus na Bíblia, com mais clareza no Novo Testamento, assim como outras verdades sobre o Ser de Deus), a Igreja, o próprio Jesus Cristo, a própria Trindade, e também até o Espírito Santo de Deus.
A chave para entendermos esse texto é nos perguntar: O que João viu nesta visão? Ele viu sangue conversando com Deus, sendo respondido, recebendo roupas e sendo instados a esperar? Ou ele viu almas de pessoas mortas como mártires? Como João poderia ter visto sangue recebendo vestes brancas, se na linguagem apocalíptica quem é descrito como tendo vestes enbranquecidas no sangue do Cordeiro são pessoas vivas? – Apocalipse 7:9-13.
Que nossos queridos adventistas possam refletir melhor sobre essa importante verdade da sã doutrina. – Pr. Fernando Galli.
_____
* O Pr. Leandro Quadros tem o nosso maior respeito. De modo algum fizemos essa matéria para criticar a pessoa dele. É um ótimo adventista, ótimo pastor para suas ovelhas, e extremamente educado quando pratica a apologética.
** Fonte do texto do Pr. Leandro: Clique aqui.