Nos episódios passados vimos que Maria foi eleita e predestinada por Deus para ser a mãe do Deus-homem, e que podemos encontrar no AT breves, mas importantes, versículos sobre a vida e o ministério de nossa queria querida e bendita irmã. Neste episódio aprenderemos sobre quem foi Maria, suas origens, onde nasceu, seu status social e sua reputação naquela sociedade.
Seus Pais
A Bíblia nada menciona sobre os pais de Maria. Mas no Proto-Evangelho de Tiago, um livro apócrifo, mas amplamente usado por e citado por padres da Igreja oriental, como Epifânio e Gregório de Nissa, ambos do quarto século, encontramos a informação de que os pais de Maria se chamavam Joaquim e Ana, e há menção do nome de duas de suas irmãs, Maria Salomé e Maria de Cléofas. A tradição da Igreja, baseada no Proto-Evangelho de Tiago, cuja escrita provavelmente antecede à dos evangelhos canônicos, conta que Joaquim e Ana não tinham filhos. Ana se lamentava muito. Observe:
E, tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se dizendo: “Ai de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita entre os filhos de Israel; […] “Ai de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, pois que elas são fecundas em tua presença, Senhor. “Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da terra, pois que até estes animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor. 3 “Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor. “Ai de mim A quem me igualo eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecunda, dando seus frutos na ocasião própria, e te bendiz a ti, Senhor.” – Proto-Evangelho de Tiago 3:1-3.
Por isso Joaquim vai ao deserto orar, quando um anjo do Senhor lhe aparece e lhe informa que Ana ficaria grávida. Ela já era idosa, e estéril. Enquanto isso, um anjo do Senhor aparece a Ana e lhe diz:
“Ana, Ana, o Senhor escutou teus rogos: ‘Conceberás e darás à luz, e de tua prole se falará em todo o mundo’.” – 4:1.
Ao mesmo tempo, um anjo do Senhor aparece a Joaquim e lhe anuncia que sua esposa ficaria grávida. E ambos bendizem a Deus. Maria nasce e cresce, segundo a narrativa, sob os mais dóceis e santos cuidados. Ela cresce sendo cuidada por virgens sem mancha de pecados graves, e vive no templo em Jerusalém, onde conhece José.
Admitindo que esta narrativa seja verdadeira – e de fato não há nada de absurdo nela que a torne uma mentira – aprendemos como Deus cuidou de que Jesus nascesse de uma jovem dedicada aos trabalhos sagrados no Templo, e cujos pais eram exemplo em esperar em Deus. A narrativa se coaduna com a santidade esperada de uma jovem chamada Maria pertencente à uma família exemplar. Embora não seja inspirada, nem da autoria de Tiago, ela é citada por homens de fé logo cedo na história da Igreja. Assim, aprendemos pela história de Maria que Deus tem propósitos para a família inteira, e quando Deus decide abençoar um membro da família, Ele o faz para que outros também sejam abençoados.
Também, vemos como Deus é didático ao escolher pessoas e nomes. No caso de Isaque, Deus lhe deu esse nome porque sua mãe, Sara, riu quando soube que ficaria grávida. Isaque, em hebraico, significa “riso”. (Gênesis 18:13, 14; 21:3) No caso da mãe de Maria, seu nome “Ana” significa “graça”. E não apenas ela foi agraciada por Deus, tão estéril quanto Sara, por dar à luz Maria, mas a própria Maria, de um modo mais especial, incomparável em termos de privilégio, conforme veremos mais à frente da boca do próprio anjo Gabriel foi agraciada.
Onde Maria Nasceu
Provavelmente, e quase com toda certeza, Maria nasceu em Nazaré, por volta do ano 15 a.C.. Em Lucas 1:26 lemos que “o anjo Gabriel foi enviado a uma cidade da Galileia chamada Nazaré”, para anunciar o nascimento de Jesus a Maria. Então, a jovem e virgem Maria morava em Nazaré, onde provavelmente ela nasceu. Esta cidade ficava ao norte da Palestina, onde estão hoje o Estado de Israel, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Nazaré era uma pequena cidade, sem muita importância. Deduz-se isso pelo fato de o historiador Josefo mencionar dezenas de cidades do território de Israel, mas não menciona Nazaré em seus escritos. Nos dias de José, Maria e Jesus, Nazaré e toda a Palestina era dominada por Roma. A grande maioria das pessoas ali eram pobres, vivendo de trabalhos artesanais, pescaria, entre outras atividades. Havia também os miseráveis, extremamente pobres. A minoria era rica, bem poucos. Veremos mais adiante que Maria, e seu esposo José, eram pobres. Eles não puderam ofertar um cordeiro, no templo, mas apenas duas rolinhas e dois pombinhos. (Lucas 2:24) Debaixo do jugo romano, os impostos eram altos. Certamente Maria e sua família foram muitas vezes explorados por cobradores de impostos, ou publicanos. Eram pessoas pagas pelo governo romano para coletar impostos dos judeus, mas esses publicanos acrescentavam valores a mais (ágio) para realizar sua tarefa; por isso eram mal vistos. Nem os fariseus, opositores de Cristo, os toleravam, e questionavam os discípulos de Jesus: “Por que vosso mestre come com os publicanos?” (Mateus 9:11) Manter a santidade naquela época de injustiças sociais era um verdadeiro teste de lealdade a Deus.
A desonestidade era comum entre os judeus. Muitos deles se prostituíam moralmente pelo dinheiro. Vemos isso na frase de João Batista: “A ninguém acuseis falsamente”. (Lucas 3:14) No grego, para “acusar falsamente”, usou-se o verbo que literalmente significava “contar figos”. Por quê? O governo romano pagava para delatores dedurar quem contrabandeava figos no território de Israel, principalmente em Jerusalém. Mas muitos deduravam, ou acusavam, falsamente uma pessoa de contrabando para receber a gorjeta do Império Romano. Assim, “não conteis figos” tornou-se uma expressão idiomática para “não acusar ninguém falsamente”.
Roma permitia que os judeus praticassem sua religião, desde que cumprissem com suas obrigações com impostos e apoio aos líderes e imperadores. A fé judaica girava em torno do Templo, onde cambistas faziam do Templo uma casa de comércio, como muitos fazem hoje nas igrejas cristãs. Os líderes religiosos judaicos, sacerdotes, sumos sacerdotes, facilmente se viam obrigados a fazer acordos com Roma, para que sua fé fosse tolerada em nome da Pax-Romana – uma política de tolerância romana às crenças diversas.
Nossa querida irmã Maria viveu piedosamente naquela sociedade judaica dominada por Roma, e certamente, por ter achado favor aos olhos de Deus, dava exemplo de fé e conduta para sua família e conhecidos. Sua reputação com certeza era de quem esperava o Salvador como todos os bons judeus que pela fé aguardaram o prometido Messias. No próximo episódio veremos como sua espera em fé foi ricamente recompensada. Sou uma pessoa emotiva, e não posso deixar de me emocionar com a riqueza e beleza da cena em que o anjo Gabriel anuncia o nascimento de Jesus a Maria, e como José é avisado em sonho deste importante acontecimento. Não perca os próximos episódios da história de Maria – a Mãe do Deus Homem. – Pr. Fernando Galli.