DEIXANDO OS VESTÍGIOS DA IMATURIDADE ESPIRITUAL

INTRODUÇÃO

Ao escrever sua primeira carta aos cristãos em Corinto, o apóstolo Paulo, nos capítulos 2 e 3 fala acerta de três tipos de pessoas:

  • Pessoas naturais, ou seja, aquelas que ainda não haviam se convertido,
  • pessoas carnais, ou seja, crentes que haviam aceitado a Cristo mas agiam como crianças na fé, e
  • crentes espirituais, ou seja, maduros na fé. 

Esta mensagem destina-se a mostrar os vestígios de imaturidade espiritual que caracterizam o crente carnal e encorajar a todos a amadurecer cada dia mais na seu modo de vida cristão.

Ao mesmo tempo, ajudará os cristãos espirituais a evitar os sinais de imaturidade espiritual, contribuindo assim para que os carnais se tornem espirituais.

Os imaturos em Corinto

A igreja em Corínto, nos dias do apóstolo Paulo, entre os anos 55 e 56, enfrentava muitos problemas.

Conforme um comentário da Bíblia de Estudo Vida, “poucas partes da Escritura revelam a humanidade dos cristãos de maneira tão vívida como esse livro”[1].

Devido àqueles cristãos serem tão carnais e crianças, ou imaturos em Cristo (1 Coríntios 3:1), havia divisões na igreja, problemas com a imoralidade sexual, a idolatria, a arrogância, e os relacionamentos interpessoais entre cristãos.

As famílias naquela igreja, influenciada pelo modo de pensar grego, também sofriam com as questões relacionadas à instabilidade e ao derradeiro divórcio. Era sem dúvida uma igreja doente e carnal.

Por isso, o Espírito Santo de Deus inspirou Paulo a oferecer àqueles cristãos conselhos e advertências práticos, e ao mesmo tempo diagnosticar a causa de todos aqueles males: Eles não eram espirituais, mas carnais e imaturos.

Assim, o que iremos considerar nesta mensagem nos ajudará a que vivamos como cristãos maduros e espirituais.

Deseja você crescer como um cristão espiritual? Então, preste atenção à leitura de 1 Coríntios 3:1, 2. Observe como Paulo usa as palavras “espirituais” e “carnais” nesse texto. Leiamos, então, o 1 Coríntios 3:1, 2.

“Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. Visto que há inveja e discórdias entre vós, por acaso não estais sendo carnais, vivendo segundo padrões puramente humanos? Pois, quando alguém diz: Eu sou de Paulo; e outro: Eu sou de Apolo; não estais agindo segundo padrões puramente humanos?” – Almeida Século 21.

Quer crescer na fé como uma pessoa espiritual? Então, observe as características dela:

(1) A primeira característica de uma pessoa espiritual é que ela diferencia o que é carnal e o que espiritual. E como a pessoa espiritual faz para diferenciar?

Paulo, no texto que lemos, compara a pessoa carnal com uma criança que recebe leite, não alimento sólido. O problema não era o de alguns serem novos na fé e iniciarem sua nova vida como crianças, pois é óbvio que os novos na fé agem assim, “mas o problema surgiu porque certos coríntios eram culpados pela estagnação do desenvolvimento espiritual. Ainda não estão prontos para o alimento sólido porque eram carnais.”[2]

Percebeu, então, que a imaturidade espiritual causada pela estagnação na fé identifica o cristão carnal? Irmãos, vivermos como cristãos maduros e espirituais significa não estagnar na fé. Mas a questão é: O que caracteriza, ou quais as evidências, vestígios de alguém que estagnou na fé e não vive como cristão maduro espiritual? Se lermos o contexto de 1 Coríntios 3:1, 2, acharemos a resposta. Vamos crescer na fé por aprender desses indícios e evitá-los? Então, veja:

“Visto que há inveja (ciúmes) e discórdias (contendas) entre vós, por acaso não estais sendo carnais, vivendo segundo padrões puramente humanos?” – 1 Coríntios 3:3.

Quais são, nesse texto, duas características de um cristão carnal? Ciúmes (inveja) e contendas (discórdias).

Falemos primeiramente do ciúme. A qual tipo de ciúme Paulo se refere aqui? Ao zelo que um marido sente pela esposa, ou ao ciúme invejoso, que incita à rivalidade e à punição? Óbvio que se refere ao tipo ruim de ciúmes, que destrói a pessoa por dentro e corrói a paz na igreja.

E o que dizer da palavra “contendas”? No texto grego, Paulo usa a palavra “eris”, cujo significado é “discussão, briga, discórdia”[3]. Assim, ciúmes e contendas faziam um par perfeito para impedir que os cristãos em Corinto vivessem como cristãos maduros e espirituais. E ciúmes e contendas estão casados até hoje e estagnando a vida espiritual de muitos.

Se no passado, os cristãos judeus sentiam ciúmes dos cristãos gentios (ou seja, dos não-judeus que se convertiam ao cristianismo), tem havido em nosso meio ciúmes por questões do tipo:

(a) Irmãos com ciúmes daqueles que conseguiram acumular mais funções na igreja, ou bens materiais, ou reconhecimento acadêmico;

(b) Irmãos críticos para com aqueles que se sobressaíram em algumas áreas da vida;

(c) Irmãos encarando outros como rivais;

(d) Irmãos fazendo fofocas sobre outros para prejudicá-los;

(e) Irmãos organizando “panelinhas” ou “grupinhos” para criticar outros, etc. Tudo isso gera contendas.

As contendas, por usa vez, causam:

(a) Divisões;

(b) Discussões por assuntos triviais;

(c) Inimizades.

Tudo isso inviabiliza o culto, pois os cristãos ficam demasiadamente preocupados com seus direitos, prestígio e não há mais como louvar e adorar.

Consegue entender, então, que para sermos pessoas espirituais e maduras, devemos deixar que o amor cristão prevaleça quando o ciúmes e a contendas destroem a unidade entre nós?

Para termos melhor compreensão da expressão “sois carnais”, ela indica “crentes controlados pela carne”[4]. Eles agem segundo os princípios seguidos por homens separados de Deus e de Cristo.

No seu modo de pensar, por sempre demonstrarem ciúme e contribuírem para rotineiras contendas, são caracterizados por viverem criti-cando os outros. Exemplos:

(1) “O Pastor comprou um carro novo. Por que ele não ajudou os irmãos mais pobres?”

(2) “O louvor está usando violão na igreja. Isso é pecado”.

(3) “Conheço quem faz esse trabalho na igreja melhor do que aquele incompetente do irmão fulano.”

(4) “Eu odeio esse pessoal que chega atrasado e atrapalha o culto”.

(5) “Aquele ali nunca traz a Bíblia! Nem parece cristão”.

(6) “Eu prefiro muito mais o jeito do pastor auxiliar pregar do que esse titular que está aí. Quando é que vence o mandato dele?”

(7) “Não faz nem dois anos que pecou grave e já tem cargo na igreja!”

(8) “Irmão, não vota no irmão fulano não para ser professor de adolescentes, porque ….” Não é que eu quero falar mal dele não, mas (…)”.

(9) “Minha igreja não ora por mim, não me visita, quando vou ao culto fico esperando os irmãos me cumprimentar, e ninguém vem. Não sei o que estou fazendo nessa igreja. Ninguém gosta de mim ali. Vou procurar outra igreja com uma liderança melhor!”

(10) “Deixa aquela fofoqueira prá mim! Vou fazê-la sentir na pele o poder de uma língua fofoqueira.”

(11) “Eu não vejo a hora que aquela minha ovelha saia da igreja.”

Poderíamos mencionar outros casos. Mas o que importa é que tais irmãos, se fossem maduros e espirituais, saberiam lidar melhor com situações como essas, e contribuiriam para a paz e o crescimento espiritual da igreja. Será que você reconhece que para ser um cristão maduro e espiritual precisa melhorar em algum aspecto da sua vida cristã? Precisa deixar de ser crítico, caluniador, polemista, etc.?

Mas voltemos ao texto de Paulo aos Coríntios. Lemos que alguns eram tão carnais que diziam: “Eu sou de Paulo” e “Eu sou de Apolo”. Em outras palavras, de tão carnais que eram, em vez de afirmarem pertencer a Jesus Cristo, faziam “panelinhas” e se proclamavam pertencer a um homem. O que isso significava? Que eles ainda eram influenciados de certa forma pela cultura grega, que na época “divinizava seus heróis, transformando-os em deuses.[5]

Não é isso que observamos em muitas igrejas neopentecostais, que divinizam homens, chegando afirmar Deus no céu e meu apóstolo na terra? Não achamos essas atitudes infantis? Então, por que deveríamos preferir e apoiar somente alguns em detrimento de outros irmãos?

Uma vez ouviu-se de um grupo de jovens numa igreja: “Aquele pastor precisa sair, ou saímos nós.” Outra vez, ouviu-se também: “Será que um novo pastor negro em nossa igreja vai dar certo?” (Ele nem havia chegado à igreja, e já estavam falando mal dele e de forma preconceituosa.) E ainda, uma irmã disse: “Aquele pastor me batizou, e se ele sair, eu saio junto.”

Todas essas expressões são sinais de imaturidade espiritual. São sinais de que a pessoa se enquadra na expressão usada duas vezes por Paulo, nos versículos 3 e 4. Consegue identificar qual é? “Vivendo segundo padrões puramente humanos”.

O que isso significa? Que a conduta dessas pessoas estava em um plano terreno ou humano, e não em um plano espiritual.[6] Portanto, se você reconhece que possui esses vestígios de imaturidade espiritual, procure viver como pessoa madura e espiritual.

Como se tornar uma pessoa madura e espiritual?

O texto e o contexto de 1 Coríntios 3:1-4 lança muita luz sobre vivemos como pessoas maduras e espirituais. No próprio texto, Paula usa a expressão no versículo 2 “leite vos dei de beber” ou conforme outra tradução “com leite vos criei”.

Paulo estava querendo dizer que havia ensinado as doutrinas fundamentais do cristianismo a eles, ou seja, o evangelho na sua forma mais simples.

Todavia, Paulo desejava falar a eles não baseado nessas doutrinas elementares – o arrependimento, a fé, batismos, ressurreição (Hebreus 6:1, 2) – mas assuntos mais profundos. Todavia, eles não estavam preparados o alimento sólido, ou seja, a sabedoria divina que ele menciona em 1 Coríntios 2:6, 7. Observe o que esse texto diz:

“Na verdade, falamos de sabedoria entre os que já são maduros; não, porém, a sabedoria desta era, nem dos seus governantes, que estão sendo reduzidos a nada. Mas falamos do mistério da sabedoria de Deus, que esteve oculto, o qual Deus preordenou antes dos séculos para a nossa glória.” – 1 Coríntios 2:6, 7.

Em outras palavras, Paulo queria falar àqueles cristãos em Corinto de modo mais profundo sobre o mistério da sabedoria de Deus, ou seja, sobre o próprio Jesus Cristo, a quem ele chamou em Colossenses 2:2 de “o mistério de Deus”.

Paulo queria se aprofundar no significado da completa redenção de Cristo[7], um assunto, por sinal, muito amplo para ser discorrido. Mas aqueles cristãos coríntios ainda estavam no tomando “leitinho”, porque eram crianças.

Que lição nós aprendemos desses dizeres de Paulo? Que se quisermos viver como cristãos maduros e espirituais precisamos nos aprofundar no conhecimento da Palavra de Deus. Chega de gastarmos tempo com o que não nos edifica!

Nos dias de Paulo, o cristão maduro e espiritual não mais deixava a filosofia grega direcionar a sua vida, mas sim a sabedoria divina.

Da mesma forma, a filosofia deste mundo, que ensina viva para você e esqueça de Deus (ou lembre-se dele quando der tempo) não pode impedir você de se tornar uma pessoa espiritual.

Então, reflita bem nessas perguntas e no modo como você as responderia:

(1) Como está a minha leitura da Bíblia?

(2) Como e com que frequência eu preparo a escola bíblica dominical?

(3) Como procuro encontrar as respostas para assuntos mais difíceis das Escrituras?

(4) Qual é o meu alimento sólido preferido – A TV? A Internet? Ou a Bíblia?

(5) Será que estamos manejando bem a Palavra da verdade, conforme Paulo aconselhou em 2 Timóteo 2:15?

(6) Será que Paulo diria o mesmo de você quando disse em 1 Coríntios 2:15: “Aquele que é espiritual compreende todas as coisas”?

Além de termos intimidade com a Palavra de Deus, há uma frase no contexto de 1 Coríntios 3:1-4 que nos ajudará em muito a vivermos como cristãos maduros e espirituais. Tenha a bondade de ler 1 Coríntios 2:16:

“Pois quem jamais conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.” – 1 Coríntios 2:16, Almeida Século 21.

Enquanto o cristão carnal quer instruir a Deus, muitas vezes por achar que sua forma imatura de agir é o melhor e o mais sossegado modo de viver, sem ter que se preocupar com crescer na fé, o cristão espiritual tem a mente de Cristo.

Paulo era espiritual, tanto que aconselhou os cristãos em Corinto a tornarem-se imitadores de Paulo, assim como Paulo era de Cristo. – 1 Coríntios 11:1.

Viver como cristão maduro e espiritual significa ter a mente de Cristo, ou seja, imitar o exemplo e as qualidades de Jesus. É deixar que as palavras de Jesus registradas na Bíblia nos direcionem para agirmos o mais próximo possível do modo como Jesus agiria em nosso lugar.

Por isso, estudando a vida de Jesus, aprendemos que ele foi amoroso, bondoso, compreensivo, dedicado, espiritual, fiel, generoso, humilde, intrépido, justo, leal, maduro, notável, obediente, puro, querido, respeitável, sábio, temperado, veraz, ungido, xenófilo (amigo dos estrangeiros) e zeloso.

Quer viver como cristão maduro e espiritual? Aprenda das qualidades de Jesus. Ele é o centro de nossa vida.

Conclusão

Se Paulo fosse escrever uma carta a você, cristão convertido – ele se dirigiria a você como cristão carnal ou espiritual? Este estudo certamente nos ajudou a refletirmos melhor em que aspectos da nossa vida precisaremos amadurecer para sermos pessoas espirituais.

Que jamais deveremos causar discórdias ou contentas, sermos ciumentos ou invejosos, mas que buscaremos conhecer mais a Palavra de Deus, como forma de adquirirmos maior sabedoria divina e imitarmos a Cristo Jesus, na maneira de lidar com os outros e dependermos e pertencermos exclusivamente a Jesus.

Quer deixar os vestígios de imaturidade espiritual, e ser um cristão maduro e espiritual? Se sua resposta for sim e sincera, você crescerá na fé e alegrará o nosso querido Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e contribuirá para a felicidade de todos os irmãos que fazem parte do seu convívio. – Pr. Fernando Galli.

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[1] BÍBLIA de Estudo Vida, página 1767, Editora Vida.

[2] ARRINGTON French L. e STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento, página 945. São Paulo. CPAD. 2ª. Edição. 2004.

[3] VINE, W.E. UNGER Merril F.. WHITE Jr, William. Dicionário Vine. O Significado Exegético Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. 3.a Edição. São Paulo. CPAD. 2003, página 503.

[4]  CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, página 38, Volume 4. São Paulo. Editora Hagnos. 2002.

[5] KEENER, S. Keener. Comentário Bíblico Atos. Novo Testamento. Página 475. Belo Horizonte. MG. Editora Atos. 2004.

[6] ARRINGTON French L. e STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento, página 945. São Paulo. CPAD. 2ª. Edição. 2004.

[7] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, página 31, Volume 4. São Paulo. Editora Hagnos. 2002.