AULA 2 – OS PRESSUPOSTOS PARA A COMPREENSÃO DA DOUTRINA DA TRINDADE
INTRODUÇÃO
Na aula anterior abordamos, com base na Bíblia, a definição básica da doutrina da Trindade. Elencamos treze definições de teólogos em seus livros sobre em que realmente cremos: Um só Deus em três Pessoas Divinas. Fizemos isto para que o aluno cristão estudioso da Palavra, possa ensinar aos leigos mal informados, tanto não crentes, como crentes, em que realmente cremos.
Na aula de hoje, trabalharemos com alguns pressupostos sobre a doutrina da Trindade, plenamente alicerçados na Palavra de Deus. Estudá-los nos ajudará na melhor compreensão da doutrina e no eficaz ensino dela.
1. HÁ UM SÓ DEUS.
Os opositores da doutrina da Trindade, tanto unicistas como arianos modernos, teimam que a crença em três Pessoas Divinas implica em sermos politeístas. Apelam para raciocínios lógicos e matemáticos, com questionamentos do tipo:
“Se Paulo é professor, Pedro é professor, Joaquim é professor, como podem essas três pessoas serem um professor só?”
“Trinitários, decidam: 1 + 1 + 1 é igual a 1 ou a 3?”
Todavia, comparar o único Deus Todo Poderoso, incriado e infinito, com os muitos professores criados e finitos, não passa de uma tarefa errônea. E apelar para os números não ajuda muito, já que não se soma a quantidade de pessoas na Trindade para chegarmos no resultado Um só Deus. Na verdade, os opositores à doutrina da Trindade querem a todo custo provar que cremos em três deuses porque fica amis fácil para eles refutarem nossa crença num único Deus.
A fé cristã, diferente dos não crentes, por mais que defenda a pluralidade de Pessoas na Divindade, ela sempre sustentará a fé num ÚNICO Deus. E isso com base na Bíblia:
Com esses textos acima em mente, ninguém pode nos convencer que adoramos três deuses por crermos em três Pessoas Divinas num só Deus.
2. CADA PESSOA DA TRINDADE É PLENAMENTE O ÚNICO DEUS.
Embora a Bíblia nos ensine haver um só Deus, ela afirma que:
(a) O Pai é Deus. Esta verdade nem os que negam a Trindade questionam. Por isso, lemos a Bíblia usar expressões como:
(b) O Filho é Deus. No decorrer do curso, iremos ver muitas provas da divindade de Jesus. Mas que Ele é Deus, podemos observar nos seguintes textos da Bíblia:
Embora alguns irão objetar esses versículos, afirmando que Jesus seja Deus em um outro sentido, temos forte convicção de que Jesus seja Deus no mesmo sentido que o Pai, e veremos provas irrefutáveis disso durante esse curso.
(c) O Espírito Santo é Deus. Embora haja os textos que de forma indireta atribuam divindade ao Espírito Santo, há dois bons textos bíblicos que não exigem muito esforço para crermos nisso. Veja:
Então, se em Atos 5:3, 4 temos que Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo e a Deus, logo concluímos que o Espírito Santo é Deus. E em 2 Coríntios 3:17, a expressão “o Senhor é o Espírito” nos lembra “Deus é espírito”, de João 4:24) Logo, o Senhor é o Espírito.
Além disso, é importante observar que cada Pessoa Divina é o Deus por inteiro, e não parte dele. Infelizmente, observamos alguns irmãos afirmando que o Pai é 1/3 de Deus, o Filho 1/3, o Espírito Santo 1/3, e a soma deles equivale ao Deus inteiro. Todavia, não há matemática na Trindade. Quando uma Pessoa Divina se refere a outra como Deus, não a chama de 1/3 de Deus, ou Deus fracionado, mas como “Deus”. – Veja Item 6, desta aula.
3. AS PESSOAS DA DIVINDADE SÃO DISTINTAS, MAS NÃO SEPARADAS.
O teólogo Wayne Gruden chama de “soluções simplistas” as tentativas de reinterpretar a doutrina bíblica, no afã de torná-la mais fácil para a compreensão. [1] Valendo-se desse pensamento, alguns movimentos antitrinitários conhecidos como unicistas afirmam que há uma pessoa apenas na divindade, e que ela ora foi Pai, depois foi Filho, depois foi Espírito Santo. Para eles, seria como se a única pessoa de Deus agisse de três modos diferentes, ou tivesse três funções. Mas a Bíblia não ensina isso.
Pelo contrário, a Bíblia mostra claramente que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são pessoas distintas, mas não separadas. Afirmamos “não separadas” devido ao fato de elas serem o mesmo Deus único. Mas ‘distintas’ por serem pessoas distintas. Como sabemos disso?
A Bíblia faz questão de separar as pessoas da divindade. Veja:
Por que o Deus verdadeiro usou o termo “façamos” e “à nossa”, se ele fosse apenas uma única pessoa? Nem tente, por favor, afirmar que Ele teria dito aos anjos essas expressões, pois isso nos tornaria seres criados à imagem de Deus e de anjos, sendo que a Bíblia chama o homem apenas de imagem de Deus.
Temos aqui um texto clássico para compreendermos Pai e Filho como pessoas distintas. Basta perguntar ao texto bíblico ‘quantas pessoas distintas são necessárias para provar que o ensino de Jesus é verdadeiro, e segundo Jesus quem são essas pessoas’, e teremos a resposta: duas pessoas, o Pai e o Filho.
Aqui claramente vemos três Pessoas Divinas distintas. O Filho roga ao Pai, e não a si mesmo, para que o Pai envie não a si mesmo, mas OUTRO Consolador, e não o mesmo.
Quando deixamos quase 200 versículos na Bíblia falarem por si mesmos, entendemos com muita naturalidade que Pai, Filho e Espírito Santo são pessoas distintas. – Veja Mateus 3:16, 17.
4. AS TRÊS PESSOAS SÃO IGUAIS EM NATUREZA DIVINA, MAS DIFERENTES EM POSIÇÃO.
Conforme vimos acima, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são o mesmo Deus. Isto equivale dizer que os três possuem a mesma natureza divina. São o mesmíssimo Deus único. São iguais em divindade. Mas na relação intratrinitariana, em termos de posição, o Pai é o cabeça da Trindade. Veja:
Assim como entre marido e mulher, eles são iguais em natureza humana, mas diferentes em posição – pois o homem é o cabeça – assim também na Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são iguais em natureza divina, mas diferentes em posição, onde o Pai é o cabeça. Este é o cabeça, pois envia o Filho (João 3:16) e o Espírito Santo (João 14:26). Assim, o Filho e o Espírito Santo são submissos ao Pai, inferiores em posição. O Espírito Santo parece ser submisso ao Filho, pois o Filho também envia Espírito Santo, conforme lemos em João 15:26. Devido a essa subordinação funcional, e não ontológica, Jesus podia dizer que o Pai é maior do que ele. – João 14:28.
5. HÁ DIÁLOGO E RELACIONAMENTO ENTRE AS PESSOAS DA TRINDADE.
A Bíblia revela-nos que, embora as três Pessoas Divinas sejam o mesmo Deus, elas se comunicam entre si. Vejamos alguns textos que sugerem isso:
O Deus que é amor ama desde sempre. Não precisou criar seres inteligentes para amar. Na relação intratrinitariana, as Pessoas Divinas sempre se amaram no mais absoluto e perfeito grau.
Neste ‘façamos’, estão certamente as três Pessoas Divinas. Elas estão aqui se comunicando, e com certeza houve um “acordo” entre elas quanto ao papel que cada uma teria na Criação.
A expressão “não falará de si mesmo” indica que o Espírito Santo de Deus não age sozinho na Trindade, ou seja, de sua própria iniciativa, sem levar em consideração a vontade das outras Pessoas Divinas. Por isso se diz que ele só fala do que ouve, e evidentemente do Pai, que determina o que o Espírito Santo nos fala, em termos de inspiração, revelação, iluminação e administração da Igreja.
Assim como certamente ouve diálogo e relacionamento quando o Pai enviou o Filho para vir a Terra, assim também ouve quando o Filho envia o Espirito Santo da parte do Pai. Aqui está as três Pessoas Divinas interagindo.
6. AS PESSOAS DO DEUS ÚNICO PODEM RECONHECER-SE LEGITIMAMENTE COMO DEUS.
Se as três Pessoas Divinas são o mesmo Deus, é óbvio que dentro das Escrituras Sagradas poderemos observar uma delas se dirigindo a outra como Deus.
Por exemplo, observe alguns textos bíblicos em que vemos explícita ou implicitamente isto ocorrer:
Combinando esses textos acima, observamos o Filho considerar o Pai como Deus, o Pai considerar o Filho como Deus, e o Espírito Santo, ao nos testemunhar que somos filhos de Deus, evidentemente considera Deus como nosso Pai, portanto, para o Espírito Santo, o Pai é Deus.
7. CREMOS NA TRINDADE SEM ENTENDER OS MISTÉRIOS NELA ENVOLVIDOS.
A distância infinita entre Criador e criatura, em si, constitui uma grande barreira para compreendermos as coisas de Deus. Por exemplo, Deus não tem princípio. (Salmos 90:2) Cremos no por quê Deus é assim, ou seja, é porque a Bíblia diz, mas não sabemos explicar o “como” Deus é assim. Cremos no por quê Deus é onisciente, ou seja, é porque a Bíblia diz, mas não sabemos como Deus simplesmente sabe de tudo. O mesmo se dá com a Trindade. Cremos no por quê dela, ou seja, porque a Bíblia revela três Pessoas como sendo o mesmo e único Deus Verdadeiro, mas não sabemos o “como” Deus pode ser assim. Conforme diz a Bíblia, apenas o Espírito de Deus conhece as coisas profundas de Deus. – 1 Coríntios 2:10, 11.
CONCLUSÃO
Conhecer esses pressupostos ajuda-nos a compreender melhor no que a Igreja Cristã crê à luz da Bíblia. Seremos, com isso, ajudados a definir melhor nossas bases de fé alicerçadas na Bíblia e fugiremos das definições populares e medíocres acerca desta tão importante doutrina.
[1] Gruden, Wayne. Teologia Sistemática : Atual e Exaustiva, p. 175. São Paulo : Vida Nova, 1999.