AULA 3 – O ESPÍRITO SANTO – O PODER DE DEUS OU UMA PESSOA DIVINA?

INTRODUÇÃO.

Após termos aprendido, nas aulas anteriores, em que realmente cremos quanto à doutrina da Trindade, e também os pressupostos para a melhor compreensão desta, na aula de hoje iremos aprender sobre o Espírito Santo. Será que ele se trata do poder de Deus em ação? Ou se refere a uma pessoa divina?

Neste curso, preferimos estudar sobre quem ou o que é o Espírito Santo antes de abordar sobre a divindade de Jesus. Isto porque pensamos na possibilidade de não convertidos à fé cristã cursarem essas aulas e, caso sejam convencidos pela Verdade sobre a personalidade do Espírito Santo, venham com mais facilidade aceitar a divindade de Jesus.

1. PESSOA OU PODER (FORÇA)?

Na história da Igreja Cristã, lá pelos idos dos séculos II a IV, sabemos ter havido certas disputas sobre a identidade do Espírito Santo. Isto porque há textos que tratam o Espírito Santo como um ser pessoal, mas há outros que parecem ensiná-lo como um ser impessoal. Então, a questão era: É um ser pessoal que às vezes é tratado como um poder impessoal, ou se trata de um poder impessoal às vezes personificado para se dar mais importância a ele?

Observe:

“O próprio Espírito dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus”. – Romanos 8:16, 17.

Este texto prova conclusivamente que o Espírito Santo é uma pessoa divina, pelo fato de ele ‘dar testemunho’ com nosso espírito? Embora seja uma forte evidência em favor da personalidade do Espírito, as Escrituras também dão testemunho sobre Jesus, mas elas não são um ser pessoal. – João 5:39.

“Ele vos batizará como Espírito Santo e com fogo.” – Mateus 3:11. 

Este texto prova conclusivamente que o Espírito Santo não é um ser pessoal, pelo fato de que não se batiza alguém com uma pessoa? A resposta é não!, pois se seguirmos essa mesma lógica, Moisés não seria um ser pessoal, visto que os israelitas foram batizados em Moisés. – 1 Coríntios 10:2.

2. O DEUS EM AÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.

Nas atuações do Espírito Santo no Antigo Testamento, os judeus viam este Espírito como a manifestação do próprio Deus. A eles, Deus não havia se revelado de forma triúna, de modo que o povo judeu não cria na Trindade. Assim, para os judeus, o Espírito Santo, ou o Espírito de Deus, era o Deus agindo com o seu poder. Ou seja, era o ser pessoal de Deus atuando em favor do seu povo. Não era um mero poder em ação, mas o próprio Deus demonstrando o seu poder. É apenas no Novo Testamento, com a revelação completa das Escrituras, é que a Igreja terá a visão triúna de Deus, daí então ela relerá os textos do Antigo Testamento sobre o Espírito Santo, e perceberá que ele é uma PESSOA DIVINA junto com o Pai e o Filho.

No Antigo Testamento, o Espírito Santo age da seguinte forma [1]:

  • Atua na criação: “Pairava sobre a face das águas” (Gênesis 1:2); 
  • Poeticamente, é ‘o sopro de Deus que clareia o céu’ (Jó 26:13) e o fôlego de Deus enviado para criar (Salmos 104:30); 
  • É o Deus onipresente (Salmos 139:7-12); É o Espírito que permanecia, ou como está no hebraico, “lutava contra” no homem da época (Gênesis 6:3); 
  • É o sopro (ou Espírito) que dá entendimento ao homem (Jó 32:8); 
  • É o Espírito que dota os homens de “sabedoria” (Êxodo 28:3), “entendimento e habilidade em toda atividade artística” (Êxodo 31:3); 
  • É aquele que capacita o homem de Deus a atacar inimigos (Juízes 11:29) e atua em favor de quem Deus escolhe (Juízes 13:25); 
  • Ele inspira o homem a profetizar (Números 11:25) e fazer declarações divinas, falando por intermédio do profeta, pondo palavras na sua boca (2 Samuel 23:2); 
  • Ele enche o homem de poder, de justiça e de coragem para declarar verdades a outros (Miquéias 3:8); 
  • É o meio pelo qual Deus reconstrói o templo e seus alicerces (Zacarias 4:6); 
  • Também possui atributos divinos pois é o “Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR” (Isaías 11:2); 
  • E é também o bom Espírito que guia o homem no caminho plano. – Salmos 143:10.

Essa atuação do Espírito Santo no Antigo Testamento apontava para um ser pessoal agindo, com poder, em favor do povo. Todavia, o judeu entendia como a atuação do Deus YHWH, aquele que na teologia cristã baseada em AT e NT juntos, é o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

3. UMA DAS TRÊS PESSOAS DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO.

No Novo Testamento, à Igreja é revelada que Deus é três Pessoas Divinas, sendo o Espírito Santo uma pessoa distinta do Pai e do Filho. Nos primeiros quatro séculos da Igreja, os pais e mestres da Igreja, focados em refutar as heresias cristológicas, pareciam não ter uma opinião muito definida se o Espírito Santo era um ser pessoal ou o poder de Deus, ou ambos. Observe o seguinte comentário:

“Entretanto, os escritores patrísticos hesitavam em falar abertamente do Espírito como “Deus”, pelo fato de que essa prática não era sancionada pela Escritura — um ponto discutido detalhadamente por Basílio de Cesareia em seu tratado sobre o Espírito Santo (374-5). Mesmo em um período mais avançado, como o ano de 380, Gregório de Nazianzo reconhecia que muitos teólogos cristãos ortodoxos não estavam certos se deveriam tratar o Espírito Santo “como uma força, como criador ou como Deus”. Essa cautela pode ser percebida na proposição final da doutrina do Espírito Santo, formulada por uma reunião do Concilio em Constantinopla, no ano de 381. Ali, o Espírito não foi descrito como “Deus”, mas como “o Senhor e provedor da vida, que se origina do Pai e é adorado e glorificado com o Pai e com o Filho”. A linguagem não deixa dúvidas; deve-se atribuir ao Espírito a mesma dignidade e posição de que gozam o Pai e o Filho, mesmo que o termo “Deus” não seja usado abertamente.” [2]

Portanto, a Igreja, após ter definido em Concílios quem de fato é Jesus e sua divindade e seu relacionamento com o Pai, em 381 d.C., no Concílio de Constantinopla, define tanto a divindade como a pessoalidade do Espírito Santo como parte da fé cristã. 

Hoje, a Igreja mais madura em sentido doutrinário ratifica a fé no Espírito Santo como ser pessoal e divino, pois observa que no NT esta fé está firmemente alicerçada, e relê passagens sobre o Espírito Santo no AT com as lentes de toda a Escritura. Ali, o Espírito Santo é divino e pessoal, pois:

  • Deus Pai, através de sua Palavra, Jesus (João 1:1), usa seu sopro, o Espírito Santo, para criar tudo. (Salmos 33:6) Assim como Jesus é a Palavra de Deus e isto não o torna um ser não pessoal, assim também o Espírito Santo ser chamado de “sopro”, isto não o torna um ser impessoal. E se é um ser pessoal e participa da criação, é Deus, pois só Deus cria.
  • O Espírito Santo fala do que ouve (João 16:13). Apenas um ser pessoal pode falar do que ouve. Na revelação divina da Palavra de Deus, “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16) é uma expressão sinônima de “homens falaram da parte de Deus, movidos por Espírito Santo” (2 Pedro 1:21), logo o Espírito Santo é divino e pessoal, como o Deus Pai. Na Trindade, o Espírito Santo não age sozinho, mas nos dá as Escrituras e o entendimento dela conforme a vontade do Pai. isto equivale a “falar do que tiver ouvido”.
  • O Espírito Santo tem sentimentos. Efésios 4:30 nos exorta a não entristecer o Espírito Santo de Deus. Ele é de Deus porque procede do Pai, assim como na expressão “Filho de Deus”, este Filho, Jesus, também procede de Deus. Trata-se aqui de uma expressão usada em Isaías 63:10: “Eles entristeceram o seu santo Espírito”. Assim como em Isaías 63:10 os israelitas entristeceram um ser pessoal e divino, ou seja, Deus, assim também Efésios 4:30 nos aconselha a não entristecer um ser pessoal e divino, e este, com a revelação do NT, é uma das três Pessoas do Ser de Deus.
  • O Espírito Santo tem vontade própria. Lemos em Atos 13:2: “O Espírito Santo disse: ‘Separai-me Barnabé e Saulo para a obra para a qual os tenho chamado”. Apenas um ser pessoal pode dizer algo a uma ou mais pessoas. E no versículo 4, ainda lemos que Saulo e Barnabé foram enviados pelo Espírito Santo. Uma mera força abstrata não pode enviar pessoas.
  • Ao Espírito Santo, se pode mentir. Lemos em Atos 5:3, 4 duas expressões paralelas: “Para que mentisses ao Espírito Santo” e “não mentiste a homens, mas a Deus”. Isto não apenas significa que o Espírito Santo é Deus, mas também um ser pessoal. Pois “mentir a homens” torna esses homens seres pessoais. “Mentiste a Deus” torna Deus um ser pessoal. E da mesma forma “mentiste ao Espírito Santo” torna o Espírito Santo um ser pessoal.
  • O Espírito Santo tem poder. Se no AT o Espírito Santo é a manifestação do poder de Deus, no NT ele é um ser pessoal com poder. Jesus prometeu aos discípulos: “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo.” (Atos 1:8) Paulo escreve aos Romanos: “Para que transbordeis na esperança pelo poder do Espírito Santo” e “pelo poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito Santo”. (Romanos 15:13, 19) Se o Espírito Santo dá poder, ele é Deus, e se e Deus, é um ser pessoal.
  • O Espírito Santo tem o mesmo nome que o Pai e o Filho, logo é o mesmo Deus com eles e é tão ser pessoal quanto eles. Na expressão “batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19) “Nome”, aqui, significa “autoridade”. As três Pessoas Divinas possuem autoridade divina. 

Durante o curso, quando refutarmos argumentos dos não-trinitários, veremos muito mais provas bíblicas em favor da divindade e personalidade do Espírito Santo.

CONCLUSÃO.

Um dos papéis do Espírito Santo é conduzir o cristão e a Igreja a toda verdade. (João 16:13) No decorrer da história da Igreja, muitas heresias contra esta maravilhosa Pessoa da Divindade foram expostas e vencidas com a Palavra de Deus. Mas muitas delas ainda persistem. Na próxima aula veremos como refutar à luz da Bíblia os argumentos sectários contra a divindade e pessoalidade do Espírito Santo. Faremos isso visando não apenas para a defesa da fé outrora entregue aos santos (Judas 3), como também para o preparo dos crentes no evangelismo de não-crentes. – Pr. Fernando Galli.

 

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[1] R. N. Champlin. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, p. 513. Volume 2. São Paulo: Hagnos, 2002.”

[2] Alister Mcgrath. Teologia Sistética, História e Filosófica, pp. 364, 365. São Paulo : SHEDD Publicações, 2010O